Crônicas do "Da C.I.A"

Tuesday, March 16, 2010

Uma política ingênua e errática ( Otávio Frias Filho )

Na Folha de São Paulo de hoje, 16/03/2010.
Reproduzo na íntegra o artigo mesmo o jornal estando em bancas por crer que é realmente uma exceção: lúcido, delicado e irretocável.
Uma política ingênua e errática

Na nossa diplomacia, cheia de distorções seletivas, a questão dos direitos humanos deixa de ter qualquer valor no trato com inimigos de Washington, os quais adulamos

OTAVIO FRIAS FILHO
DIRETOR DE REDAÇÃO

Durante muito tempo, a política externa brasileira foi negligenciada no debate público. Como ocorre em toda nação continental, a agenda interna sempre esmagou a externa, efeito acentuado, em nosso caso, pelo discreto relevo internacional do país. Aos poucos, esse quadro começa a mudar.
Talvez seja nossa inexperiência no palco do mundo, combinada à afoiteza do governo Lula em projetar a todo custo o peso geopolítico que o país já alcançou, o que nos leva a cometer equívocos em cascata e enveredar por um caminho temerário.
Veja-se, por exemplo, o caso do Irã. Ao que tudo indica, a elite dirigente daquele país (incluída a facção oposicionista) acredita que possuir armas nucleares seja um imperativo de segurança nacional. Não é absurdo que pense assim. Os americanos promovem atualmente duas guerras de invasão nos países que fazem fronteira com o Irã a oeste (Iraque) e a leste (Afeganistão). A menos de mil quilômetros de seus limites territoriais, a distância entre São Paulo e Brasília, o Irã tem cinco vizinhos inamistosos e dotados de capacidade militar nuclear: Paquistão, Índia, China, Rússia e Israel.
Se essa premissa for aceita, nada deterá o Irã (exceto, talvez, um desesperado ataque preventivo de Israel). O mais provável é que Israel e Irã convivam no futuro sob o "equilíbrio do terror nuclear", o mesmo mecanismo que deteve Estados Unidos e União Soviética no passado e detém os arqui-inimigos Índia e Paquistão hoje. O que o Brasil tem a ganhar ao se imiscuir em problema que não é diretamente seu, numa conjuntura geograficamente remota e comercialmente pouco importante para nós?
Os Estados Unidos influem e se intrometem nos conflitos do Oriente Médio não para pavonear seu peso mundial, como parecem supor nosso simplório presidente e seu trêfego chanceler. Os EUA estão atolados até o pescoço na região porque sua economia é dependente do petróleo local (não é o caso da nossa) e sua comunidade judaica exerce peso desproporcional nas eleições americanas (diferente de novo do Brasil, onde comunidades de origem judaica e árabe têm expressão equilibrada e convivem de fato).
Não existe razão de política externa para que nossa atitude perante a complexa, quase insolúvel, contenda entre israelenses e palestinos seja outra que não uma equidistância comedida, sempre favorável à não violência e à negociação direta entre as partes. Retomar esse contato direto, aliás, é hoje o ponto crucial naquele conturbado trecho do globo. Nossa "diplomacia do futebol" tem pouco a fazer ali, exceto passar ridículo.
Numa entrevista recente, o novo embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, disse algo significativo, o que é inusitado entre diplomatas. Referindo-se às relações entre nossos dois países, constatou que "vamos começar a nos esbarrar por aí". Shannon aludia ao fato de que o aumento do peso econômico e comercial do Brasil aumenta sua influência externa, irradia seus interesses e o expõe a crescentes áreas de atrito com outros países relevantes, desde logo os próprios Estados Unidos.
Em outras palavras, não precisamos buscar sarnas para nos coçar, elas virão natural e infelizmente como decorrência de nossa projeção maior na geopolítica mundial. Logo teremos de enfrentar decisões realmente difíceis.
É provável, por exemplo, que o Brasil venha a ser um dos cinco entes soberanos a predominar no planeta antes de meados do século, junto com a China, os Estados Unidos, a Índia e a Europa. Continuaremos a ser o único a prescindir de armas nucleares como recurso dissuasivo? O ex-ministro Rubens Ricupero tem uma bela argumentação em defesa dessa originalidade, talvez até como contribuição da cultura brasileira ao futuro dos povos.
Mesmo no âmbito de uma perspectiva pacifista, porém, que é da nossa tradição, abdicar de arma atômica implica como contrapartida a obrigação de dotar o país de recursos militares convencionais muito mais onerosos e destrutivos do que o aparato atual. São questões graves como essa que merecem debate profundo, mais que nossa ingênua, felizmente inócua, aparição no Oriente Médio ou nossa desastrada e igualmente inócua ingerência nos assuntos internos de Honduras.
Toda política externa deve combinar o interesse egoísta do próprio país com um elenco de valores universais (essencialmente, respeito aos direitos humanos e à autodeterminação dos povos). Ela será tanto mais sólida e respeitável quanto mais os dois aspectos se harmonizarem sem grande contradição. O que estamos fazendo é uma política errática, cheia de distorções seletivas, de modo que a questão dos direitos humanos, por exemplo, deixa de ter qualquer valor no trato com inimigos de Washington, os quais adulamos para sermos vistos como "independentes".
Vamos confrontar os Estados Unidos, sim, e cada vez mais. Mas vamos fazê-lo quando for relevante para o Brasil, não para realizar as fantasias ideológicas da militância que aplaude o presidente Lula e seu chanceler Celso Amorim, o qual errou mais uma vez quando se filiou no ano passado ao PT. Chanceler não deveria ter partido. Parodiando Clemenceau (1841-1929), a diplomacia é assunto sério demais para ser relegado a diplomatas e a ideólogos partidários.

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Monday, January 11, 2010

Serra e a favela na serra - Revista Piauí, Ed 5


O governador quer tirar os ocupantes de uma das poucas matas paulistas que sobraram
Mário Sergio Conti

Numa noite quente do mês passado, durante um jantar en petit comité no Palácio dos Bandeirantes, perguntou-se de supetão a José Serra qual era o maior problema de São Paulo. Ele não titubeou na resposta, que surpreendeu seus convivas. Não, não era a segurança pública. Nem os presídios. Nem mesmo o desemprego. "São as favelas na Serra do Mar", disse. Até tomar posse como governador, menos de quinze dias antes, ele nem sabia que havia favelas ali. Ou melhor, sabia da existência daquelas que estão fincadas no sopé dos morros desde, mais ou menos, quando padre Anchieta subiu a serra pela primeira vez. Não tinha idéia de que há em torno de 40 mil pessoas vivendo - na ilegalidade e em condições mais do que precárias - num dos raros santuários de mata atlântica no estado.

A má notícia fez o governador perder o sono (o que lhe é fácil) e acordar bem cedo (o que é raro). Despertou sem despertador e telefonou para o secretário da Habitação, o engenheiro Lair Alberto Krähenbühl. Disse-lhe que fizesse uma pesquisa com os moradores das favelas. Para saber de onde vieram, quem são, se e no quê trabalham. "São informações essenciais para que possamos tirar essas pessoas de lá", disse.

Krähenbühl botou uma equipe de pesquisadores em campo. Conseguiu também com que a polícia realizasse um trabalho de espionagem nas áreas recentemente ocupadas por barracos. Os dados de que dispõe ainda estão incompletos. Mas ele já sabe um punhado de coisas - todas alarmantes. Por exemplo, que a instalação de barracos na serra se acelerou brutalmente nos últimos tempos. Desde 2005, dobrou a população favelada do Parque Estadual da Serra do Mar, sobretudo nos arredores de Cubatão. Haveria hoje algo como 13 mil famílias instaladas em zonas de mata nativa.

Outro dado: a criminalidade é rompante nas novas favelas. "Há tráfico de drogas pesado e um contrabando para lá de esquisito", diz Krähenbühl. Por "esquisito" entenda-se que a mercadoria chega em grandes quantidades, vinda do porto de Santos, é dividida em pequenas porções nas favelas e delas segue para a capital, onde é redistribuída. A maioria dos moradores da serra trabalha em Cubatão. Quando encontra trabalho, é no setor informal. Os novos favelados, em resumo, são gente paupérrima, que se submete a morar no meio de criminosos, em casebres sem água, esgoto e gás encanado.

Por fim, há o problema dos acidentes. Algumas das novas ocupações, como a de Pé de Galinha, ficam junto a viadutos de rodovias - no caso, no entroncamento da Imigrantes com a Padre Manoel da Nóbrega. "As construções, que são frágeis, podem provocar erosões junto aos alicerces, colocando as estradas em risco", disse o secretário da Habitação. "No limite, as favelas podem interromper o tráfego do maior corredor de exportação do Brasil, a Imigrantes", completou. Não é à toa que o governador perca o sono.

Como foi possível que a favelização tenha sido tão rápida quanto silenciosa, que cerca de 20 mil pessoas tenham se instalado na serra em apenas meia-dúzia de anos? A responsabilidade maior é dos governadores do período, Mario Covas e Geraldo Alckmin. Políticos, em geral, não gostam de mexer com favelas. Tanto que o secretário Krähenbühl desconfia de que alguns dos núcleos foram criados diretamente por vereadores de Cubatão, para neles engordar seus currais eleitorais.

Depois que as favelas se instalam, a tendência delas é crescer. A remoção fica praticamente impossível. Todo mundo é contra, dos políticos à igreja, passando pelo grosso da imprensa e pela opinião pública, que preferem os paliativos da "urbanização" à retirada pura e simples dos favelados. Não é essa a posição de José Serra. "As pessoas têm que sair de lá", disse ele. No raciocínio do governador, a aceitação da privatização na marra seria uma irresponsabilidade, um atentado ao patrimônio natural do estado e um desrespeito aos próprios favelados.

O secretário Krähenbühl, que nos anos 90 foi secretário da Habitação do então prefeito Paulo Maluf, esboçou um plano de remoção. O projeto começa com o truísmo de que a remoção por meio da força militar é inviável ("o lacerdismo dos anos 50 acabou", diz ele). Passa pela avaliação de que é preciso que os próprios favelados impeçam o crescimento dos núcleos ("eles devem fazer um censo, para organizar a transferência"). E termina com a pregação de que é necessário construir conjuntos habitacionais ("ninguém sai de uma casa de graça, sem a perspectiva de ir para outra melhor").

Há dois elementos essenciais para que o plano possa ser levado a bom termo: dinheiro e política. Quanto ao primeiro item, Serra determinou que uma verba de 300 milhões de reais seja usada na remoção dos favelados e na reestatização das matas. Quanto ao segundo, o governador ordenou que seis secretarias de Estado funcionem de maneira coordenada - para saber quem são os favelados, quem os apadrinha, quais são as forças criminosas em ação na área, e quais são os interesses econômicos envolvidos na proliferação dos barracos.

Terminado o jantar, Serra fez um tour com os convidados pelo Bandeirantes. O estilo do palácio, neoclássico, é pesadão, sem graça.

Reflete a época em que começou a ser construído, há meio século, num terreno da família Matarazzo, para sediar uma universidade. Na ocasião, o bairro do Morumbi era campo, com, aqui e ali, diversos bosques de mata atlântica. Hoje, no mesmo Morumbi, a pouco mais de mil metros do Palácio dos Bandeirantes, fica a favela de Paraisópolis. Ela tem mais de 80 mil habitantes e é uma das mais violentas da cidade.

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Tuesday, May 26, 2009

Obras-primas: Meu sonho, Paralamas do Sucesso

Nova canção do grande gênio Herbert Vianna, aquele que nos anos 90 dizia que "Luiz Inácio falou, Luiz Inácio avisou". Duas décadas depois, vejamos onde chegou:
Paralamas do Sucesso - Meu Sonho

Meu Sonho

Pode ser que meu sonho seja assim
Te dizer quase tudo que você é pra mim
O que quero, o que espero
Sonho em te ver aqui
Sem rodeio solto os freios
Canto o amor por ti

Se me calo, tenha claro
Que é por refletir
Nas minúcias das carícias
Que eu sonho em sentir
Ter teu gosto ver teu rosto
Feliz a me pedir
Mais carinho, mais promessas
Que eu sonho em cumprir

Já no segundo verso Vianna demonstra seu menosprezo às regras formais opressoras desta sociedade globalizada: "Te dizer quase tudo que você é pra mim".
Em sua visão sempre caleidoscópica e cínica, o autor sem rodeio solta os freios de sua imaginação.
Mas é no último ato, ou como se diz vulgarmente, última estrofe, que Herbert mostra que os anos de sua sublimação em gênio contemporâneo não transformaram sua essência juvenil: Como o jovem Herbert, o adulto Vianna com coragem e criatividade combina rimas que deixariam Badauí do CPM 22 morrendo de inveja: Há muito mais profundidade em sentir/pedir/cumprir do que supõem as frivolidades da música pop. Não é para iniciantes refletir as "minúcias das carícias".
A guitarrinha ao fundo remete a Alagados, uma fase igualmente juvenil e genial deste artista com A maiúsculo. E quem não enxerga nos riffs poderosos de Ximbinha a influência óbvia de Herbert? O artista com A maiúsculo é assim, tão amplo e irrestrito que acaba por não se responsabilizar pelos que cativa. Mesmo que sejam outros gênios, como Ximbinha!

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Thursday, May 14, 2009

A tocaia de "32" de Dezembro ( Jorge Bornhausen )

Originalmente em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1101200509.htm

A imagem de um cangaceiro à espera de sua vítima, embrenhado na caatinga, fazendo mira com a espingarda montada numa forquilha de graveto é menos primitiva e covarde do que o sistema de aumento periódico de impostos do governo Lula.
Pelo menos, foi assim no lusco-fusco do fim de ano em 2004. O ato que acabou somente publicado em 2005, evidente fraude, pois espichou o calendário para "32" de dezembro, foi pura tocaia. Aproveitou um momento de distração nacional e zás, atirou. Ainda por cima arbitrando a data que quis para o "Diário Oficial", ilegalidade que a Justiça bem que poderia punir!
Foi assim que o presidente da República atingiu os cidadãos contribuintes com uma carga de aumento de impostos da maior irresponsabilidade e covardia. O dispositivo pegou carona na mesma MP 232/2004 anunciada -e que, como tal, devia ser celebrada- para corrigir a tabela do Imposto de Renda, que estava extorquindo os trabalhadores.
A tocaia tributária que foi a MP 232 é um desses golpes que desmoralizam qualquer estrutura jurídica, um retrocesso em técnica legislativa. Equivale a um contrabando -lembra a idéia de fazer passar sorrateiramente alguma coisa sem pagar tributos à discussão e maturação de um projeto de lei-, e foi essa a imagem que usei quando apareceu o primeiro repórter me perguntando sobre o fato. Respondi, sem hesitação, que o governo, aproveitando a medida provisória destinada à correção da tabela do Imposto de Renda, contrabandeou -o verbo é adequado à qualidade moral da manobra- um artigo, elevando de 32% para 40% a base de cálculo para prestadores de serviços.
A MP traz outros aumentos oportunistas, mas naquele momento limitei-me a comentar esse aumento escandaloso.
Tocaia, contrabando, esperteza, malandragem, covardia. As qualificações não são gratuitas, mas uma associação natural da medida provisória 232 ao primitivismo e violência da política tributária do governo.
A fúria arrecadadora está explorando, temerariamente, um momento de relaxamento da economia favorecido pela conjuntura internacional. Ou há alguém que esteja se deixando enganar pela propaganda ufanista com que o governo se atribui ter produzido o boom das exportações agrícolas, quando ele só sufocou a agricultura com impostos e maus-tratos?
Com essa ação, pode-se estar criando um peso insuportável para nossa competitividade. Quando os preços se ajustarem, como já está começando a acontecer com muitas dessas commodities, entre as quais a soja, o peso insuportável da carga tributária nacional pode ser fatal. O governo do PT, na sua mediocridade, é imediatista e não liga para o amanhã, confiante no seu arsenal de espertezas.
Tocaia, contrabando ou o que seja, não há como avaliar compreensivamente a política fiscal brasileira. Nem seu método confuso. Aliás, tornou-se regra: quando se anunciam benefícios, vai-se ver, houve de fato um novo aumento da carga tributária. Quando anunciou a desoneração do PIS/Pasep para exportações, o governo Lula subiu a alíquota interna de 0,65% para 1,65%. Quando anunciou a desoneração da Cofins para exportações, aumentou de 3% para 7,6%.
Agora, na MP em que fez discreta correção de 10% da tabela do Imposto de Renda -que deveria ter sido, no mínimo, de 17%, considerando a defasagem nesses dois anos do governo petista-, o contribuinte foi achacado com a elevação da base de cálculo de 32% para 40%, escandaloso aumento de carga tributária em 25%! Na última tocaia, tinha subido de 12% para 32%. Agora, foi para 40%.
Minha indignação se amplia por uma frustração pessoal: sou autor da proposta de criação do Código de Defesa do Contribuinte, que, se estivesse vigorando, impediria esse triste episódio de tocaia tributária. O código (já com pareceres favoráveis nas comissões de Assuntos Econômicos e de Constituição e Justiça do Senado) estabelece justa punição para fraudes como foi a publicação dessa medida provisória, que, embora datada de 30 de dezembro de 2004, somente circulou efetivamente na edição extra do "Diário Oficial", publicada já em 2005. Como se o ano de 2004 tivesse prosseguido num fantástico 32 de dezembro...

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O LIMIAR ENTRE A ÉTICA E A TÉCNICA ( Edison Freitas de Siqueira )

Originalmente em http://www.direitosdocontribuinte.com.br/page107.htm

O Brasil vive um importante momento de sua história. Construímos um país que é jovem, mas que é considerado estrategicamente importante para o mundo. Nossa recente história não nos permitiu viver todas experiências que países mais antigos já vivenciaram. Em contrapartida, sempre podemos alcançar a sabedoria de poder contemplar e criticar experiências já vividas.

As crises éticas que agora abalam toda nossa sociedade nos forçam a revisar nossos conceitos políticos e sociais nos mais diversos setores. Neste aspecto, emerge com relevante importância a discussão sobre o porque, nestes últimos vinte anos, deixamos de alcançar um desenvolvimento econômico equivalente as principais nações do Mundo; por esta razão o exame da questão dos Direitos do Contribuinte. Sob o ponto de vista filosófico, a relação tributária é de gênese, onde criatura (Estado) e criador (cidadão/empresa) devem transigir de forma equilibrada, sempre tendo como premissa fazer o Estado funcionar e, este em funcionamento, consiga atender os interesses dos seus cidadãos em coletividade "produtiva".
Nesta linha de raciocínio filosófico, vale trazer a máxima do pensamento dialético e asseverar ser "impossível pensar na galinha sem antes imaginar o ovo. E assim vice-versa". Não há Estado sem contribuinte-cidadão e este tende a extinguir-se na anarquia improdutiva se não houver Estado organizado. E, esta também é a razão de existir do Direito Tributário, que consiste no conjunto de leis de caráter técnico que estabelecem ao Estado, a forma e os limites de sua atuação junto aos cidadãos e empresas contribuintes, no sentido de buscar recursos para o seu adequado e constitucional funcionamento.
Indispensável, também, é o exame de todas circunstâncias da conjuntura interna e externa que envolvem nosso país. Faz parte deste contexto, dentro de dados fornecidos pelo Banco Central, identificar as razões do PIB do ano de 2003 ser de 8 bilhões menor do que fora no ano de 1990 ou de porque o PIB de 2004 foi de 98 bilhões de dólares menor que em 1995, ou 200 bilhões de dólares menor do que fora em 1996, números estes, que apontam declínio e estagnação econômica.
Éramos a oitava economia do mundo, hoje somos a décima quarta. Nosso crescimento econômico tem estado na média de 3,5% ao ano, enquanto a Índia, nos últimos 10 anos tem crescido na média de 7% ao ano. Rússia igual, Chile a 10%, Argentina 7% e China a mais de 15% ao ano.
Por certo, temos coisas a corrigir. Entre elas, modificar nossa Filosofia Fiscal, que hoje desestimula o crescimento, tributando 75% o trabalho e somente 25% a renda, inversamente do que acontece no resto do mundo. Sem estas mudanças não haverá transformação, ainda mais quando sabemos que no Estado de Direito toda organização se dá por intermédio da lei e esta sempre se origina de um processo filosófico puro, cuja essência é ser assistido pela técnica objetiva e não por ela comandado. Não há como admitir que o aspecto técnico prevaleça sobre o filosófico. É como construir um edifício sobre alicerces de areia: ergue-se o castelo, mas com tempo o mesmo cede e ao final desmorona, levando consigo quem esta dentro.
A aprovação de uma Lei que contenha os direitos e garantias dos contribuintes é atitude amplamente exigida por todos os setores sociais, constitui um marco de inegável transcendência no processo de fortalecimento do princípio de segurança jurídica característico das sociedades democráticas mais avançadas. Permite também, aprofundar a idéia de equilíbrio das situações jurídicas da Administração tributária e dos contribuintes, com a finalidade de favorecer o melhor cumprimento voluntário das obrigações destes.
Um Código dos Direitos do Contribuinte não é mais do que a contrapartida das obrigações dos contribuintes derivadas da obrigação geral de contribuir para o sustento dos gastos públicos de acordo com os princípios contidos na Constituição. Criamos o Estado de Direito na Civilização Moderna, outorgamos a este ente poderoso, através da atividade fiscal, autorização de adentrar em nosso patrimônio privado para buscar recursos destinados à manutenção e promoção do bem comum. Esta autorização, contudo, sempre teve sua efetivação prática limitada pela Lei.
A questão técnica não absorve e resolve a questão ética. Pode-se estar dentro da Lei, mas contrariamente ao direito e daí subvertendo-se o Estado de Direito. Portanto uma lei que regre a questão ética não deve tratar da questão técnica da arrecadação, deve envolver em um único corpo normativo os principais direitos e garantias dos contribuintes, não fazendo referência alguma às obrigações tributárias, já que estas aparecem devidamente estabelecidas nos correspondentes textos legais e regulamentares.
A regulamentação só será possível e abrangente se consolidada num texto legal único, que dotará os direitos e garantias nele contidas de maior força e eficácia, permitindo a generalização de sua aplicação ao conjunto de Administrações Tributárias, sem prejuízo de sua possível integração, posteriormente, na Lei Geral Tributária, por quanto constitui a espinha dorsal do ordenamento tributário. A lei deve introduzir modificações essenciais ao ordenamento jurídico vigente, reproduzindo os princípios básicos que devem presidir a atuação da Administração Tributária nos diferentes procedimentos. Por isso, além de representar reforma, a Lei salientará ainda seu caráter programático, por quanto constituirá uma declaração de princípios de aplicação geral ao conjunto do sistema tributário, com o fim de melhorar substancialmente a posição jurídica do contribuinte, visando a obter o desejado equilíbrio nas relações entre a Administração e os administrados e a reforçar a segurança jurídica no marco tributário.
Com isso, reforçaremos os direitos do contribuinte, bem como sua participação nos procedimentos tributários, Correspondendo-lhe, por outro e com a mesma finalidade, um reforço às obrigações da administração tributária, tanto para conseguir uma maior celeridade em suas resoluções, quanto para completar as garantias existentes nos diferentes procedimentos que pratica.
Portanto, um Código de Defesa do Contribuinte é tema de interesse social. Nunca pode ser visto como casuísmo de determinados setores da sociedade, muito menos reclamação de empresários e advogados. Trata-se, pois, de questão ética muito discutida em países com economias e sistemas políticos diferentes. O Estados Unidos, por exemplo, que em 1996 já se antecipou à discussão editando sua Declaração dos Direitos do Contribuinte II, a Espanha, Monarquia Parlamentar, aprovou sua Lei dos Direitos e Garantias do Contribuinte no ano de 1998 e, num exemplo recente, a Itália, país Parlamentarista, que adotou o Estatuto do Contribuinte no ano de 2000.

Já é hora de imprimirmos verdadeiras mudanças, pois sem tê-las e começando pelo início, nunca alcançaremos condição filosófica que nos permita realizar a necessária reforma tributária que colocará o Brasil, nosso povo e nossas empresas, no caminho do crescimento, do pleno emprego, e com estes, educação, segurança e saúde.

Prof. e Dr.Édison Freitas de Siqueira
Presidente do IEDC
consulte@edisonsiqueira.com.br

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Tuesday, March 24, 2009

Marvel x DC: Watchmen x Wolverine



Ver também Batman x Ironman!

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Tuesday, December 30, 2008

"Da CIA Records", Volume 1

O Rock'n roll nem sempre foi esta coisa terrível encenada por emos, new metals ou bandas brasileiras que misturam rap-dub-samba-macumba-maracatu etc... Entender a história e a evolução do rock, especialmente em seus primórdios, é flertar com a história da música popular, de como ela absorveu e abstraiu tantas coisas da música erudita, canções de ninar e cânticos de bêbados e batalhões.
Há uma época fundamental do rock and roll, um período mais ou menos curto em que as coisas se fundiram e transformaram definitivamente. Difícil dizer quando começou, mas para saber quando terminou, uma fala do filme Almost Famous é muito precisa... O filme se passa em 1969, e temos o jovem William querendo entrar no jornalismo, para cobrir bandas de rock, quando conhece um famoso crítico de música. Eles têm o seguinte trecho de conversa, que vai abaixo:
O crítico, falando dos artigos que William lhe enviava, escritos para o jornal da escola:

Well, your writing is damn good. It's just a shame you missed out on rock and roll
I did?, respondeu William.
Oh yeah, it's over. You got here just in time for the death rattle, the last gasp, the last grope, retruca o crítico.

Ali, algo por 1969, da passagem de 1969 para 1970 acabou o rock'n roll. Alguns podem dizer que ainda após veio Led Zeppelin, AC/DC, Red Hot Chili Peppers, Alice in Chains, Pearl Jam, Queen, veio muita coisa boa de Dylan, The Who, Clapton, Rolling Stones e tantos outros deuses do rock que surgiram antes do rubicão do rock e ainda assim conseguiram grandes feitos. Não, depois da transição que o rock viveu entre seu surgimento e 1970, quando deixou de ser uma música apenas de negros bons de voz e passos, e se tornou uma forma de rebeldia, miscigenação, protesto e tantos experimentos artísticos, o que veio depois pode ter a qualidade que for, não é mais "rock and roll"; pode ser rock, pop rock, ou todas as outras vertentes, mas aquele rockzinho com coros, com poucos instrumentos, onde a voz era um instrumento e com as ranhuras das gravações mais pobres e limitadas tecnicamente, nunca mais existiu de verdade.
Não é questão de saudosismo, embora seja muito comum eu ter saudade dos tempos em que não vivi, só que aquela era "a" época do rock and roll. E é para saudar este tempo que trago aqui uma pequena coletânea, para download, com músicas aleatórias, algumas muito famosas, outras nem tanto, mas que, cada uma em seu estilo, ajudam a mergulhar nesta transformação maravilhosa que afetou toda a humanidade. Não há nenhum critério exato para a escolha das músicas, apenas escolhi algumas que não são muito conhecidas ou que alguns conhecem, já ouviram em algum lugar mas não têm muita certeza de quem canta.
Vai abaixo então a primeira coletânea "DaCIA Records", para aqueles que como eu gostariam que voltasse um tempo que não nos pertenceu.
O link para download: http://www.4shared.com/file/78193996/8b59fec2/Da_CIA_Records-Vol1.html

Agora, as faixas, com pequenos comentários:
1- Paul Anka, "You are my destiny". Lançada em 1958 pelo canadense de ascendência libanesa, é uma típica balada deste talentoso cantor e compositor que para muitos é sinônimo de música brega. Talvez esqueça-se que o mesmo é compositor de uma das mais belas interpretações de Sinatra, "My Way". Talvez esteja perdido no meio desta lista composta por rockzinhos mais típicos, mas é o melhor símbolo desta mistura que trouxe pitadas de erudição ao rock'n roll. Reparar na evolução da música, em como hábil e sutilmente sobe-se o tom da música, e como os coros de fundo são o mais importante instrumento da parte final. Detalhe: Esta é a única música da lista que não possui uma nota sequer emitida por guitarra! ( http://www.youtube.com/watch?v=uCDcoOeh_Bc )

2- Chubby Checker, "Limbo Rock". Um clássico no sentido mais amplo do termo. O excelente cantor Chubby Checker, ainda na ativa mas com limitações quanto à "Limbo dance" é um dos maiores no segmento que, na falta de melhor opção, ainda chamam de "Twist". Assim como a primeira, deve ter tocado em muitas festas e bailes dos anos 60, só que em outro momento, na hora em que todos dançavam e se divertiam. A canção está presente em muitos filmes e seriados, desde uma versão nos Backyardigans até uma em que Sebastian do desenho Pequena Sereia a canta. ( http://www.youtube.com/watch?v=ApXPd4WSP24 )

3- Gerry & The Pacemakers, "You'll never walk alone". Lançada em 1963 pelo grupo que então fazia frente aos Beatles, esta é uma canção do musical da Broadway "Carousel". Uma canção em musical mas com tantos contornos pops que acabou até mesmo virando hino do Liverpool Football Club, e a canção na versão dos Pacemakers é executada sempre antes dos inícios de jogos dos Red's. Aliás, ver a fanática torcida do clube entoando o hino é um dos momentos mais belos do futebol, de emocionar qualquer um, até quem torce para os adversários. Sobre a letra, tem uma temática encorajadora, de superação, de "erguer a cabeça e seguir em frente", tão auto-ajuda mas ainda assim tão bela. E, na minha particular opinião, é difícil não dizer que o clássico do R.E.M. "Everybody Hurts" não é diretamente influenciado por esta obra-prima: Reparem que a temática é a mesma, e mesmo a evolução da música, que começa lenta e tratando das dificuldades ( "When you walk through a storm hold your head up high" em uma e "When your day is long/ And the night/ The night is yours alone" na outra ) e fica intensa na hora do refrão redentor e de superação( "Walk on, Walk on/ With hope in your heart" em uma e "Cause everybody hurts/ Take comfort in your friends"). Enfim, uma canção extraordinária. ( http://www.youtube.com/watch?v=2zy3CeI0FCY )

4- Gerry & The Pacemakers, "How do you do it". Também de 63, esta canção foi oferecida por Epstein aos Beatles, que fizeram alguns takes mas preferiram ignorá-la e continuar trabalhando as próprias canções. Foi uma escolha louvável: Ainda que "How do you do it" tenha virado número 1, os Beatles conseguiram colocar "From me to you" em substituição a esta no topo das paradas. Foi o primeiro grande sucesso de Gerry e seus pacificadores e aqui ainda era difícil de se perceber as grandes qualidades vocais do mesmo. A letra é ideal para iniciantes em cursinhos de inglês, com letra bem simplizinha, tão típica dos muitos grupos vocais surgidos na terra da rainha nos anos 60. ( http://www.youtube.com/watch?v=2zs7OtsvvT4 )

5- The four seasons, "Silence is Golden". De 1964, esta belíssima canção do grupo "Four Seasons" é dificílima de encontrar na internet, razão pela qual inclui no álbum a versão do também muito bom grupo "The Tremeloes", que a regravou cinco anos depois. Curioso que, no original, ela foi lançada como B-Side da canção "Rag Doll", que conseguiu a difícil proeza de ser número 1 no ano da Beatlemania nos EUA. Música bem lenta e com belo trabalho de vozes, como não se vê mais hoje em dia. ( http://www.youtube.com/watch?v=8S9Olo9sis0 )

6- The Troggs, "With a girl like you". Lançada em 1966, esta música não é uma versão do "The Rutles" , que por sinal tem uma melodia muito parecida à de "If i Fell", lançada pelos Beatles no mesmo ano. Ouçam e percebam... Parecido, não? Pois era proposital, "The Rutles" era uma banda paródia dos Beatles, e esta canção está no álbum "A Hard day's rut", tudo história inventada muitos anos após a Beatlemania, inclusive o vídeo indicado no link. Eu devia falar de "With a girl like you" dos Troggs, que eram originalmente "Os Trogloditas". Falando da banda e da canção, ouçam bem e não se enganem com a letra bobinha e alegrinha, mais uma típica da época: Ouça as guitarras, a voz anasalada e forte... Sim, é a mesma banda que anos após gravou "Wild Thing". O vídeo que indico é engraçado por estarem desssincronizados imagem e som. ( http://www.youtube.com/watch?v=ijSxDesidiY )

7- Beach Boys, "God only knows". De 1966, da única banda americana que conseguiu por algum tempo fazer frente aos Beatles. Talvez nenhuma banda de seu país tenha sido tão competente nos trabalhos vocais como os Beach Boys, liderados por Brian Wilson. Esta canção é uma das maiores "quebradoras de paradigma" dos anos 60: Tem "Deus" no título ( coisa rara e difícil para uma banda de rock ) e possui alguns instrumentos nunca antes usadas em gravações do tipo. Belíssima, belíssima, está presente em um dos melhores álbuns de todos os tempos, "Pet Sounds", espécie de "Sgt Peppers" do Beach Boys. ( http://www.youtube.com/watch?v=Cb9u0DHuFdQ )

8- Beach Boys, "Wouldn't it be nice". Juntamente com a música anterior compõe como lado "A" aquilo que podemos chamar de o melhor single já lançado por uma banda que não os Beatles. A letra é de uma maturidade destoante, em plena época da juventude eterna o compositor pretende ser um pouco mais velho, adiantar o tempo para poder ficar com a amada. A estrofe final também é muito boa, embora com rimas pobres, a intenção não era rimar mesmo, apenas compôr uma linda história de amor intenso, tão intenso que chega a fazer sofrer o que não se pode ainda viver. Piegas, breguinha? Ora, e quem não é assim quando ama fortemente na juventude? ( http://www.youtube.com/watch?v=L--cqAI3IUI ).

9- The Turtles, "Happy Together". De 1967, único número 1 da banda, conseguiu a proeza de tirar do topo das paradas uma canção como "Penny Lane", daquela banda que nem preciso repetir o nome. Mais uma canção consagradora, de abertamente de amor, sem vergonha de ser extremamente feliz, funciona mais do que muitos livros de auto-ajuda. Poucas canções de "One Hit bands" conseguiram se tornar tão onipresentes na cultura pop como esta, que pode ser encontrada em episódios de Anos Incríveis, de Scrubs ( espetacular! ), That' 70s Show e, recentemente, no longa metragem dos Simpsons. Também agora foi usada em um comercial nacional da Ford. Muito difícil ouvir e não cantar junto, e é muita sorte a canção não ter sido usada até hoje como trilha de novelas da Globo: Isto impede de torná-la conhecida ao ponto de todas aquelas simpáticas e queridas pessoas que adoram Videokê a quererem cantar em todas as reuniões de família!( http://www.youtube.com/watch?v=gkVM-jGNn04 )

10- The Troggs, "Love is all around". Novamente os trogloditas, agora com esta canção que destoa totalmente de "With a girl like you" e a citada "Wild Thing", poderia muito bem estar em um álbum dos Beach Boys. Possui uma belíssima versão gravada até mesmo em acústico ( http://www.youtube.com/watch?v=OHheIBhceow )pela banda norte-americana R.E.M. Nesta gravação há uma boa variedade de instrumentos e bom uso de violino, que não fica na mesmice de ecoar os acordes do violão. ( http://www.youtube.com/watch?v=3EXRPxC-5bE )

11- THe Hollies, "He aint heavy, he's my brother". Com este poderoso título, não poderia ser uma má canção. Aqui fala-se de um irmão, mas isto pode ser interpretado até mesmo no sentido religioso ( "Somos todos filhos de Deus" ), no mandamento de fazer o bem sem olhar a quem. Trata sim de amor, mas de outra forma, em outro patamar. A banda The Hollies, que teve em sua formação Graham Nash ( que depois formou o "Crosby, Stills & Nash ) continua mais ou menos na ativa desde os anos 60, e teve seu último álbum lançado em 2006. Deve ser uma das bandas que mais teve gente já como integrante, até pela longevidade. Mas não precisa se aprofundar muito na história da banda, pouca coisa feita ali é tão boa quanto este clássico. Infelizmente não consegui obter uma versão de qualidade da versão do Hollies na internet, razão pela qual trago aqui a gravada por um tal Countdown Singers, muito fiel à original. ( http://www.youtube.com/watch?v=C1KtScrqtbc )


Divirtam-se!

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Monday, December 29, 2008

Teria Coldplay plagiado Joe Satriani?

O fato pop mais interessante do ano não é o envolvimento Mallu - Marcelo Camelo. Também não é a banda nova de outro Hermano, Rodrigo Amarante que montou a ótima Little Joy. Também não dá para colocar neste patamar as muitas confusões de Amy ou Britney Spears ou XXXXX ( Onde está XXXXX, imaginar qualquer nome de rapper americano com pose de malaco ).A mais interessante história do universo pop neste ano foi a que envolveu a banda britânica Coldplay em uma acusação de plágio do extraordinário guitarrista Joe Sartriani.
Uma polêmica de mãos cheias por envolver dois agrupamentos normalmente antagônicos e acalorados: De um lado, os milhões que estão antenados na maior banda de rock dos últimos anos, das poucas que conseguem ainda arrastar multidões por onde vão sem ter que se garantir com músicas de mais de dez anos de vida; De outro, a trupe auto-suficiente e arredia dos metaleiros.
Foi com certo regozijo que os metaleiros e toda a outra metade do planeta que odeia Coldplay ouviu a notícia de que Joe Sartiani processaria Chris Martin e os seus, exigindo até mesmo todos os lucros advindos do sucesso do novo álbum, "Viva la Vida". O mais interessante, Satriani ganhou espaço em toda a mídia, em todo o "sistema", até mesmo na mídia puramente de entretenimento, e com declarações de fazer inveja aos mais wannabes do Showbiz:

"(...)The second I heart it, I knew it was 'If I Could Fly,' " he said. "I spent so long writing the song, thinking about it, loving it, nursing it, and then finally recording it and standing on stages the world over playing it—and then somebody comes along and plays the exact same song and calls it their own."
A alegação de que "Viva La Vida" era copiada de "If I could fly" ganhou entornos mais realistas quando começaram a pipocar vídeos no YouTube que alteravam levemente o andamento da canção do grupo de Rock, e alguns até mesmo faziam pequenas substituições de notas, tudo para encaixar perfeitamente as progressões de cordas. Abaixo, esquematizando:

Progressão do Coldplay: VI, VII, III e I ( em Fá Menor ). Em acordes, fica D, E, A, Fm.
Progressão de Satriani: IV, VII, III e I ( em Si Menor ). Em acordes, fica Em7, A, D7, Bm.

Noves fora as correspondências e equivalências entre a VI e a IV, ainda mais se a sexta estiver menor ( e no caso com sétima menor ). Esqueça-se também a diferença de tom entre as músicas ( Uma está em Fá menor, outra em Si menor ), elas são realmente parecidas. Ah, há também uma pequena diferença no metrônomo, a velocidade não é exatamente a mesma, coisa fácil de corrigir em um editor de vídeo e colocar no YouTube.

Enfim, a história até parecia estar difícil para o Coldplay. Acontece que a mesma maldita ferramenta de edição que conseguiu juntar "Viva la Vida"e "If I could fly" também permite sobrepôr muitas outras canções, e isto foi feito à exaustão. Agora, menos de um mês do lançamento da polêmica, ainda não pararam de surgir novos vídeos ridicularizando a hipótese de plágio, por mais que ela soe razoável na primeira olhada.
Abaixo, dois esmagadores vídeos que jogam água abaixo as pretensões de Satriani em ficar milionário: Eles usam o mesmo método de Satriani, ou seja, pegam músicas que têm progressões de acordes semelhantes a ambas as músicas, e se não forem, que ao menos apresentem alguma similaridade. E, no universo pop, coisa mais fácil é encontrar músicas semelhantes.
Então, ao primeiro, mais sério:



Agora, para matar de vez, um vídeo elencando inúmeros sucessos recentes, a maioria de músicas bem pop, com direito a legendas e tudo. Na verdade é um vídeo de outra ordem, é apenas uma colagem, mas ajuda a construir o raciocínio de que muitas, muitas músicas se encaixam naquela combinação harmonia/melodia/ritmo:



Desta história toda, o que ficou mesmo foi a cara de bobo de Satriani. Tá bom, ele é um puta guitarrista, ele é espetacular, ele é um dos maiores de todos os tempos, mas o que não podia era se tornar também uma das pessoas a passar o maior papelão ao tentar ser esperto. Quer dizer, o que se pode apontar de Plágio em "Viva la Vida" à sua música que não seja encontrada nas músicas anteriores a "If I could fly" e que, da mesma forma, são constrangedoramente parecidas? Ainda mais para um megainstrumentista como ele, plagiar o Latino sueco pegou muito, muito mal!

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