Crônicas do "Da C.I.A"

Tuesday, August 19, 2008

Blockbusters decepcionantes: Batman

O problema do novo Batimão ( by Cebolinha ) é semelhante ao do Wall-E, que foi resenhado abaixo. Leiam o próximo post se quiserem saber o que liga o robô apaixonado ao Cavaleiro das Trevas.

Por que diabos um cara não se toca que filme de herói é filme de herói, deve ser divertido, inverossímil, cheio de explosões e com alguns diálogos intencionalmente bobinho-filosóficos? Não, o novo Batman pretendeu ser o filme cabeça com fundo bobildo. Desde o primeiro filme da nova leva do Batman, é visível que o diretor não gosta de filmes de herói, nunca deve ter passado perto do mundo das HQs e faz questão de esfregar na nossa cara que aquilo tudo é uma bobagem. Acontece que nós, que lemos em algum momento de nossas vidas HQs, nós que gostamos de filmes de herói divertidos, já sabemos de tudo isto. E é por não levar tais filmes a sério que, em não esperar deles grandes coisas além da diversão, saímos encantados quando o filme nos diverte com certa inteligência.
Só que vem este diretor do Batimão e tenta provar meticulosamente, e de uma forma que menospreza toda a lendária e vasta história do personagem, que tudo do Batman tem um fundo de verdade! Ele luta muito bem? É porque foi treinado por mestres num lugar isolado. Ele aguenta porradas que o fariam rir no Paixão de Cristo de Mel Gibson? Tudo porque o treinamento no frio o deixou super forte. Ele tem um aparato tecnológico inimaginável? Ora, tudo porque a empresa dele trabalha com tecnologia de Defesa. O Batmóvel é tudo o que a humanidade jamais construiu em um veículo? É que a empresa dele estava desenvolvendo um projeto destes, há muitos anos.
E não é que muito amigo meu que já leu revistas gostou desta baboseira toda? É verdade, até quem lia revistas do Batman achou legal esta nova versão para a formação do herói. Alguns chegaram até a falar que o filme era espetacular, um filme sério mesmo, sem as bobeiras sem explicação típicas dos filmes de herói. Ponto para o diretor: Ele cuspiu na platéia e foi aplaudido.
Tudo bem que um público menos rigoroso tenha visto em Batman algo espetacular ou revolucionário. Mas, como explicar que um Arnaldo Jabor se derreta em louvores a tal filme? Aliás, Jabor e outros tantos de "O Globo", como pode ser visto neste link . Olha Jabor, eu geralmente não gosto das suas análises ou críticas políticas. Olha Jabor, eu em quase nada me alinho a você, seja ideologicamente ou culturalmente. Ainda assim, eu imagino que você tenha uma certa cultura, bastante para não cair em armadilhas tão triviais quanto as que Nolan embute em Batman. Ah, e como é que ninguém notou que este Coringa tem muito, muito a ver com o terrorista de V de Vingança? Ou melhor, que tudo isto que eles viram de profundidade e complexidade moral, toda esta relação entre anarquia, controle, ordem e caos havia no V de Vingança? Ah, se Arnaldo Jabor visse aquele filme...
Em uma de suas primeiras falas, Coringa faz uma citação jocosa de um dos muitos aforismas populares de Nietzsche. Tá aí, quem tem um pingo de cultura já vê neste trecho um motivo para se distanciar da multidão de iletrados. Esta fala do Coringa representa algo como os primeiros 30m das corridas de velocidade para Usain Bolt: A partir dali, a massa dos comuns não nos alcança mais.
Não é a toa que a maioria das críticas profundas do novo Batman fala em "uma nova Moral", "uma subversão da Moral", "afronta à Moral comum". Usam e abusam da palavra "Moral", e de preferência com maiúscula no início. É um código, digna dos manuais de Maçonaria para se diferenciar da multidão e encontrar reciprocidade nos semelhantes. Incrível que tratando tanto de Nietzsche, especialmente dos maiores clichês de suas obras ( alguns usam como fundo à crítica o "Para além do Bem e do Mal", outros usam a "Genealogia da Moral" ) mas se esquecem de um só que já bastaria para jogar água em um dos grandes dilemas Morais do filme: O do Espírito de manada. Ora bolas, se há uma multidão em pânico e em fuga, correndo risco de vida e cuja única garantia total de sobrevivência é a eliminação total de uma outra multidão em semelhante situação mas formada em sua maioria por presidiários perigosos, o filme nos eletriza com a dúvida se alguém será capaz de se responsabilizar pela morte do outro grupo. E, inacreditável, no dilema formado pelo grupo de pessoas do "Bem", faz-se uma votação, as pessoas discutem, muitos lembram o fato de no outro grupo haver bandidos que escolheram o "Mal", patati patatá, mas ninguém tem a coragem de se responsabilizar pela morte do outro grupo? Ora bolas, numa multidão em desespero e tomada pelo ódio, a coisa mais comum é alguém descer à vala moral e cometer absurdos para sobreviver. Se temos então todos a gritar pelo ato podre, porque não um ou mais se ofereçam como o grande salvador de todo o grupo? Imaginar que ninguém, ninguém dali estaria disposto a sujar as mãos, ou meter a mão na merda, como já disse um filósofo brasileiro, é de uma inocência fantasiosa digna de filmes de super-heróis, em que deixamos passar batido. Só que não é tolerável em um filme que se pretenda a debates tão profundos!
Há muitas outras licenças que deixaríamos passar batido se fosse apenas mais um filme de super-herói. Não, Nolan e os que embarcaram na sua onda querem ver ali algo além dos filmes de herói, então não podemos aceitar certas coisas como:
- O Batman e o superpromotor serem apaixonados justamente pela mesma mulher sem que para isto se dê uma explicação mais razoável ( tá bom vai, ela ama a justiça, assim como o promotor );
- A super-armadura ser a prova de tudo, menos de dentadas de Rotweiller;
- Os caminhões da SWAT serem menos velozes e empurrados pela velocidade de caminhões de lixo;
- Batman tem uma voz distorcida por algum aparelho invisível, que ninguém sabe, eles não explicam. Ou então Bruce Wayne tem o falsete mais bizarro da história do cinema;
- Uma superarmadura superpesada que é perfeitamente controlada como uma asa delta em sua primeira queda e sem levar em conta condições básicas como a direção do vento;
- Uma pessoa de quem não sabemos nada simplesmente aparecer e conseguir deixar de quatro todas as gangues de uma cidade grande e toda a polícia;
- Alguém conseguir se articular tão perfeitamente para, no espaço de alguns dias: Doutrinar e treinar pessoas para roubar bancos , invadir sozinho uma reunião em que estão presentes todos os chefes do crime de uma metrópole sem dar um disparo sequer, conseguir colher amostras de DNA de toda a elite da Segurança da cidade, conseguir assaltar ônibus escolar e caminhão de lixo para usar em seus golpes, sobreviver sozinho a uma explosão em distrito policial em que todos os outros se dão mal. Detalhe: Este alguém é mostrado como um psicótico inconsequente, mas também genial. E com superforça, digna de dar um pau no Batman.
Repito: Tudo isto passaria batido em um filme de super-herói normal. Tudo isto num filme do amigo da vizinhança teria até graça.
O novo Batman me fez muito lembrar do Hulk de Ang Lee com a diferença que o filme do monstro verde, desde antes da estréia, já era um lixo pelas horríveis cenas de computação gráfica: O Hulk não tinha peso nas cenas do deserto e não tinha "inserção" nas cenas da cidade. Além da má expectativa que já havia sobre o Hulk, para piorar há um final terrível, uma luta final grotesca demais que somente reforça tudo o que se esperava de ruim do filme. Ali pelo meio, a primeira hora do filme eu acho muito boa, acredito que Ang Lee conseguiu administrar com maestria a tensão e ansiedade que temos em ver logo nossos heróis dando porrada nos homens maus. Ainda que Hulk não fosse um herói!
Batman é hype desde muito antes da estréia. Seus trailers espetaculares, a maquiagem surpreendente do novo Coringa e, por fim, a morte do intérprete do Coringa antes do lançamento criaram um clima de ansiedade nunca antes vista e que deve ser a principal razão para o estouro de bilheteria do filme. Alguém se lembra do "MTV Unplugged" do Nirvana? Então, ele foi gravado um dia, exibido semanas depois com algum sucesso na MTV americana mas, com o suicídio do vocalista, foi lançado comercialmente meses após com um enorme sucesso. Para os fãs do Nirvana, e eles eram e são muitos, era como um registro póstumo da obra do autor.
Eu gostei do filme do Batman como gosto de filmes bobinhos de herói, fazendo vista grossa para aquelas coisas que sabemos impossíveis. Como filme de herói, Batman está entre os 5 melhores da retomada de produções das duas grandes editoras de quadrinhos, Marvel e DC. Como minha opinião é exceção na massa crítica do filme, espero que este filme não finque uma herança maldita nos bons filmes de heróis. Se o Nirvana Unplugged nos trouxe a maldição da tradição de "Ao Vivos" e "Unpluggeds" trazerem sempre versões participações no palco de outros artistas, espero sinceramente que Capitão América não venha trazer a tona imperativos categóricos, que os Vingadores não tratem do sentido de serem heróis e, acima de tudo, que uma presença de Namor não seja uma ode ao Bom Selvagem!

Blockbusters decepcionantes: Wall-E

Este é a segunda maior decepção dos grandes blockbusters do ano. A maior é o Batman, que vai resenhado acima.

Projeto mais ambicioso da história dos ambiciosíssimos da Pixar, Wall-E é um pé-no-saco! Embora tenha os primeiros 15 minuto s mais belos da história do estúdio, é um filme muito, muito, muuuuuuiiiiiiito chato.
Quem vai ao cinema ver uma animação da Pixar sabe bem o que esperar: Um filme divertido com história supercriativa e perfeitamente bem montado. Wall-E não é divertido, é tolinho na tentativa de surpreender e tem desenrolar da história "nas coxas".
Fui ver Wall-E com minha filha mais velha. Foi a primeira vez em que fomos somente nós dois. E foi sem sombra de dúvidas o filme que mais a desagradou! Entendam: Minha filha tem 2 anos e 8 meses mas assiste e compreende muito bem filmes. E não é nenhum erro dizer que ela faz parte do público-alvo majoritário da Pixar, aquele grupo das "crianças que os pais usam como desculpa para ir ao cinema ver animação". Aliás, o primeiro longa metragem que minha filha encarou no cinema foi a melhor obra da Pixar até agora: Ratatouille ( mas isto é outro assunto. Ou não? ).
Enquanto eu me maravilhava com a competente e emocionante introdução do filme, em que vemos o robô trabalhando com afinco em um cenário apocalíptico do pós-humanidade, minha filha já começava a querer correr pela sala. E não era só ela: Outras crianças mais velhas que compareceram à sessão já estavam fora de seus lugares antes mesmo da história partir para o espaço. Aliás, a história vai para o espaço em todos os sentidos possíveis.
Eu não sei quanto aos outros, mas dificilmente eu tiraria de uma animação reflexões maiores sobre mim, sobre a humanidade e seus rumos. Wall-E pretende-se a isto e com tanta confiança que até provoca certo tipo de cinéfilo: Na humanidade que restou e que vive no espaço, somos todos glutões sem mobilidade, sem vontade própria e que nos empaturramos em copões enormes de guloseimas. Imagina só, quem faz da crítica artística um trampolim para análises políticas e sociológicas logo vibrou pois eles estariam cuspindo na cara do consumismo inconsequente de seu público que vai ao cinema e pega aqueles potes enormes de Coca e Pipoca.
Não é a toa que em blogues esquerdinha ou mesmo em sites de crítica de cinema com alguma conotação política o filme foi elevado aos céus como obra-prima e genial. E é engraçado que todos estes que fizeram análise sociológica do filme foram cegos e estúpidos! Eles viam que os seres humanos eram gordos, mas não perceberam que no que restou de humanidade não havia fome. Eles enxergaram a submissão de nossas vontades à propaganda e aos robôs, mas não notaram que neste futuro não existiria a "exploração do homem-pelo-homem". Não viram que ali não havia pobreza e nem desemprego. Para eles, aquilo no futuro é um passo atrás. Só que intencionalmente eles se esqueceram que todas as mazelas de nosso presente, justamente aquelas que justificam todas as planificações miraculosas de transformação da sociedade ( pobreza, fome, desigualdade social, desemprego, violência ) inexistem no futuro. Onde eles vêem um erro no futuro pregado pela Pixar, eu vejo mérito: Ora bolas, o homem construiu uma civilização tão espetacular que pode até mesmo abdicar da Terra e seus destemperos, juntamente com tudo o que há de ruim na nossa civilização.
Quanto ao filme em si, ele dá aquela acelerada na história em certo momento que nos faz pensar que o roteiro partiu de uma grande idéia central, mas não foi bem desenvolvido nas nuances. Desde a hora em que o robô-apaixonado entra na nave humana, o trabalho detalhista de cada passo do roteiro é deixado de lado para que surjam muitas informações novas ( e muitas legais ) ininterruptamente, deixando em segundo plano o roteiro e os cenários por um bom tempo.
Não, as falhas sociológicas da visão da Pixar não deveriam ser bastantes para uma má-avaliação do filme. Mas isto tudo só vem à tona por esta pretensão do estúdio em fazer deste filme um vulcão para jorrar reflexões no público. Fosse apenas uma animação divertida com este fundo, talvez funcionasse e eu me sentisse realizado ao sair da sala ( minha filha estava banhada em suor, de tanto correr e se divertir pelos corredores da sala. Tudo graças ao filme sem-graça ). Fosse um filme a se levar a sério de verdade, jamais os personagens principais seriam dois robôs que se apaixonam, ora bolas! Tento me lembrar de um momento que seja em que a sala toda riu. Simplesmente não houve, a não ser aquela hora em que minha filha esticou a perna no alto de uma cadeira e caiu.

Friday, August 08, 2008

Olímpiadas 2008

Já que ninguém insiste, vou falar sobre as Olimpíadas.
Primeiro de tudo: como sempre, a cobertura brasileira viaja na maionese. Que história é esta de que Ronaldinho Gaúcho é a maior estrela deste evento?
Olha, eu vou falar quem é a maior estrela do evento. Vai abaixo a foto dele:
Ah, o que? Vão dizer que há algum esportista maior do que ele atualmente? Acordem manés!
Você pode falar que Federer está num mal momento de sua carreira. Aí eu tenho que lembrar que o mal momento dele é ser número 2 por, sei lá, algumas semanas. E eu diria que melhor seria dizer que o maior esportista em atividade é o Kelly Slater, 8 vezes campeão mundial do circuito de surf e que este ano está disparado. Mas quem liga para o surf? E o surf também não está nas Olimpíadas! Então fica combinado que o maior esportista em atividade, a maior celebridade, a pessoa para quem os olhos estarão voltados nas Olimpíadas será Roger Federer. Muito embora Deus Google insista em provocar, lembrando de Rafael Nadal.
Mesmo sendo considerado por mim e tantos outros especialistas o melhor tenista de todos os tempos, será muito difícil Federer ganhar o ouro olímpico. Tudo porque Nadal é melhor que ele! Entenderam? É assim: O Federer é o melhor jogador de todos os tempos, mas não é melhor que o Nadal. O Nadal não é o melhor jogador do mundo, mas é melhor que o Federer. Quer mais clareza que isto? Ora bolas, simplesmente o Nadal possui uma estranha força, algo como uma kriptonita interna que anula as qualidades de Federer, que sempre perde para o espanhol mutante. Sabe aquilo da antimatéria, que anula a matéria? Nadal tem isto em relação a Federer. É a antimatéria de Federer, só que só Federer é anulado. É a antimatéria que mata a matéria mas não se mata.
Agora, quer uma certeza absoluta? Não, não é absoluta certeza que Phelps conseguirá mais do que 5 medalhas de ouro. Também não é certeza absoluta que os EUA conquistarão o ouro no basquete masculino e feminino. A maior certeza é esta: O BRASIL SERÁ OURO NO FUTEBOL MASCULINO. Podem anotar aí, vou repetir: O BRASIL SERÁ OURO NO FUTEBOL MASCULINO.
A minha certeza se resume à presença de um jogador... Gaúcho? Errou de novo, embora ele seja do Rio Grande do Sul também! Estou falando do jogador brasileiro mais popular entre os asiáticos atualmente: Anderson. Os jornalistas brasileiros, como sempre, se surpreenderam com a recepção que o astro-reserva dos RedDevils teve na mini-excursão da Seleção pelos países devastados asiáticos. É que aqui eles ainda acham que Robinho é craque, eles ainda acham que o Barça e o Real são os mais populares clubes do mundo. E eles ainda não sabem do tamanho da força dos ingleses no oriente.
Quer saber porque o Brasil será campeão no futebol masculino por causa do Anderson? Vejam então o histórico do jogador:
- Ele foi eleito o melhor jogador no Mundial sub17 da FIFA em 2005;
- Ele fez apenas 5 jogos com o Grêmio na Série B. E marcou o gol no antológico jogo em que, com apenas 7 jogadores de linha, o time conseguiu o 1x0 sobre o Náutico que levou seu time de volta à primeira divisão;
- Ele foi ao Porto, que vivia uma breve ressaca de títulos após a saída de Deco. E com ele, o time foi campeão Português em 2005-2006;
- Também foi campeão no campeonato 2006-2007, temporada em que quebrou a perna;
- Após eu chamar atenção ao jogador( maio de 2007 ), o Manchester United o contratou para a temporada 2007-2008. O resultado: Foram campeões ingleses e da UEFA CHAMPIONS LEAGUE;
- Com a seleção brasileira, foi campeão da COPA AMÉRICA 2007;

Não bastasse todo este rabo, e sua qualidade indiscutível, Anderson tem um histórico único: É das poucas pessoas que conheceu em vida o verdadeiro Alfred E. Neuman. Sim, o "rosto da MAD".

Wednesday, August 06, 2008

Por que o Teatro Mágico é uma porcaria?

Foi o acaso que me apresentou à banda Teatro Mágico. Este acaso se chama Revista Veja, que algum tempo atrás publicou uma matéria tratando das bandas que emulavam o estilo alternativo de Los Hermanos mas que, de tão ruins, "quase" faziam dar saudade da finada banda. Eu, que considero os Los Hermanos muito bons a nível de pop music fiquei intrigado e tentei conhecer as bandas.
Para minha surpresa, a underground Teatro Mágico era na verdade um baita hype entre os jovens que se julgam e pretendem descolados. Conversando com alguns destes moderninhos pude ouvir, não sem perceber em alguns momentos olhos marejados, a triste história da banda que no começo fazia até uso do pai de um dos integrantes para vender CDs nos shows. Estupefato, vi com empolgação um fã dizer que durante os shows da banda, "Trupe" para eles, alguns começam a brincar de Estátua, Mana-Mula e outras antigas brincadeiras infantis.
Tá na hora de alguém dar um toque pra esta rapaziada tonta que vê genialidade em Teatro Mágico: Meninos inocentes, o Rei está nu!

A utopia
É fácil entender o endeusamento e idolatria causados por uma banda( trupe? Ah, vai cagar! )como Teatro Mágico. Nós, filhos bastardos do capitalismo e liberalismo ocidental vivemos uma época sem muito espaço para o lúdico e para as utopias. Não há muita gente por aí a propor uma sociedade alternativa porque, de fato, o que precisamos é corrigir aqui e ali os desvios de nossa realidade, não subvertê-la por completo. Nada de "fugere urbem", mas sim melhorar a cidade, a começar por tirar de circulação os bandidos. A colheita do dia é conseguir desempenhar bem suas funções no trabalho, lutar por um bom emprego, sobreviver e se possível, nas horas vagas um pouco de diversão. Porque ao menos aqui em São Paulo não há muito espaço para vagabundagem, sistêmica ou não.
Esta realidade sufocante precisa de uma válvula de escape. A vida contemporânea tem muita "arte" com pouca beleza, muita informação e pouco conhecimento e muita ciência com pouco logos. Não resta dúvidas que um grupo de pessoas que se fantasia de palhaço, que faz trocadilhos e organiza-os em rima apresente verossimilhança com algo profundo, algo a se descobrir nas entrelinhas. E isto tudo reforçado por uma época que valoriza a imaturidade, que louva o "espírito jovem", geralmente significando que a mente também não passou da puberdade.

A música
O Teatro Mágico ser chamado de trupe faz sentido em um ponto: Como banda, são uma porcaria. As pobrezas musical e criativa até poderiam passar despercebidas não fossem as péssimas letras. Porque a música, especialmente a música popular com instrumentos e voz, não precisa ser perfeita em tudo. Bob Dylan é um excelente letrista, mas muito limitado como arranjador e vocalista. Janis Joplin era uma voz perfeita com muita inspiração que elevava extremamente a qualidade das letras por sua interpretação.
A banda Teatro Mágico tem melodias simples onde a simplicidade não é um dado positivo. Tem intérprete limitadíssimo, que quando muito consegue permanecer afinado em toda a interpretação ao vivo.


A poesia
Mas é o "Teatro Mágico Lírico" o seu pior lado. Um verso idolatrado pelos fãs é este:"Só enquanto eu respirar, vou me lembrar de você.". Fico a pensar se os fãs de Teatro Mágico, tomando por brilhante tal passagem, desenvolveram alguma espécie de amor anaeróbio. Podia ser pior, poderiam estar discordando de Sergey Ivanovitch e achar que suas idéias de existência derivam de suas sensações, talvez até vice-versa!
Não, Teatro Mágico é apenas música popular, como tantos outros grupos. E, como tantos outros compositores de música popular, Fernando Anitelli não consegue fazer letras de qualidade, embora suas pretensões sejam imensas e perceptíveis. A qualidade "poética" de Fernando Anitelli é na verdade uma potencialização de mau gosto do que já era mau gosto nas músicas de Humberto Gessinger. Não à toa, assim como os dos Engenheiros, os fãs de Teatro Mágico o têm como um gênio incompreendido por seu tempo.
O Gessingerismo de Anitelli é muito visível nos trocadilhos infames que seguem abaixo, exemplos pequenos e extraídos do primeiro álbum da trupe:

Hoje eu não vivo só... em paz
Hoje eu vivo em paz sozinho
Muitos passarão
Outros tantos passarinho
Muitos passarão


Que o teu afeto me afetou é fato
Agora faça-me um favor
(em "A fé solúvel" )

"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos"
( em "O anjo mais velho")

Tal insistência no jogo de palavras, ainda com tamanha infantilidade temática, só consegue aborrecer. Menos, é lógico, os aficcionados pela banda. Conversar com um fã de Teatro Mágico enquanto se ouve pela primeira vez tais versos é até hilário. Como se nos iluminassem e evitassem o constrangimento da não-compreensão, também pensando em nos levar para a seita, eles chegam até a fazer aquela indicação de trocadilho em que polegar e indicador dão uma girada de alguns graus em sentido anti-horário.
A sapiência de Fernando Anitelli é tamanha que ele não passa uma entrevista sem falar que a poesia x ou a poesia y ou que "minhas poesias" tem tais significados... Que é algo como eu falar que o cinema "Inteligência Artificial" de Spielberg é tão bom quanto os cinemas "Laranja Mecânica" e "2001" de Kubrick.

Alguns podem até se perguntar o porquê de dedicar um texto a algo que não se goste e, além do mais, algo que nem tem tantos fãs. Se o tamanho das obsessões é o tamanho das pessoas, sim, estou lá embaixo por perder tempo com o "TM". Em minha defesa, o que posso dizer é que tenho muitos amigos jovenzinhos que realmente gostam da banda e que realmente se ofendem quando começo a brincar de avacalhar o gosto alheio. E, àqueles que ainda pensam que é besteira de minha parte, que eu estou exagerando, convido-os a ler algumas coisas que Fernando Anitelli e seus fãs dizem da obra:

Aqui, Anitelli explicando o significado de uma de suas passagens brilhantes:
perdão pela demora... silenciei as teclas por um tempo.acredito que este seja um dos tópicos que eu mais gosto: "o que tem no trabalho que não sabemos estar lá?!" - e não há segredo... é ouvir de maneira espontânea, mas atenta.tem muita coisa que aconteceu de surpresa e registramos mesmo assim, como também tem alguns erros que passaram (som de porta fechando), enfim... a essência permanece. Estou remixando este primeiro CD para lançá-lo com uma qualidade melhor... demos uma filtrada em todas as músicas, algumas coisa mudaram, em outras regravamos vozes!22-11 foi a maneira que o universo encontrou pra me avisar de que eu estava no "vento certo"... eu sempre enxergava estes números quando atravessa um momento de tensão, celebração, dúvida... era como se estes fossem os sinais! eu me sentia muito fraco, queria me fazer de dobro... atravessava o amargo que inspira.
foi assim... 22-11 representa a busca de se refazer... de se espelhar, de acreditar nos signos... nos sinais... na essência...tem o tempo quebrado e o momento que flui... é assim na nossa vida dissonante: a pausa, o aplauso, o ponto. 


Agora, os fãs interpretando o verso "Eu choro café e você chora leite":
"Luana
vcs ja pensaram que prato do dia não é pra todo dia? que é passageiro?
O perfeito é passageiro?
é momentaneo?
que seja bom em quanto dure... ninguem sabe o prato de amanha..."

"Thaysa Rubiane ™
"...Como feijão e arroz
que só se encontram depois de abandonar a embalagem..."
[Acredito que o feijão representa o homem, e o arroz a mulher. E que se refere a barriga de uma mãe grávida, como embalagem]"

"Pierrot
"mas como entender que os dois, por serem feijão e arroz, se encontram só de passagem?"
acho que isso deixa claro que o prato do dia acaba... por esse mesmo motivo, ele se joga na panela para nela se perder. e se serve a vontade!
O chorar e café e chorar leite significa que os dois choram diferente. Talvez um tenha curtido e tenha esperado algo mais, quando outro apenas curtiu... como algo de passagem... "

Tem isto e muito mais nesta comunidade do Orkut, de nome "Analisando Teatro Mágico". Para quem tem boa sensibilidade musical, acesse apenas a comunidade que já bastará para se juntar a mim na intolerância a esta banda e seus fãs.
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