Fato mais transformador da minha vida, ser pai de meninas me permitiu ver coisas que não sei como viveria hoje sem. Discovery Kids, as péssimas animações da Barbie, os musicais da Disney, a beleza da cor rosa, chamar as coisas de "lindinhas", nada disso me seria permitido se não fossem minhas duas filhas. Quer dizer, seria permitido, mas não aconselhável, sob o risco de sofrer sanções homofóbicas. E assim, sob este álibi, fui ver o novo High School Musical. E graças a esta desculpa, posso afirmar sem medo: É muito, muito melhor do que o último Batman. Olha, mas é de goleada, a distância é gigantesca. Duvidam? Então abaixo vão os meus argumentos:
- Temática mais realista: O dilema de Batman é ser um milionário ressentido que passa as madrugadas a salvar a sua cidade. Troy Bolton e Gabriela Montez sofrem com a mudança de escola, a passagem para uma nova fase da vida. Todos passamos pelo que passaram os meninos de High School Musical; Nenhum de nós trocaria a farra e putaria para ficar correndo atrás de bandidos escrotos;
- Sussurros desavergonhados: As meninas vão ao delírio no cinema quando Troy aparece sem camisa. Muitos ficam empolgados quando o Batman coloca aquela roupa justinha, mas preferem manter a discrição;
- Ainda o realismo: É muito mais fácil encontrarmos um jogador de basquete que quer ser cantor e participar de musicais do que um milionário que se dedicou aos estudos, tornando-se um gênio, e às artes marciais, tornando-se um lutador imbatível;
- Personagens mais complexos e criativos: A heroína de High School Musical, um filme para jovens, é muitas vezes irritante, mas ao final adorada. A "vilã" do filme é a personagem feminina preferida das crianças, garantindo-lhes divertidos momentos. A verossimilhança do que é vivido pelo personagem principal nos faz entrar na história; Já em Batman, o herói tem uma voz de Darth Vader inexplicável, o Coringa, tido por genial, é uma mistura do estuprador pedófilo de Prison Break com o Alex de Laranja Mecânica;
- "Liga" com o público: Nos próximos vinte anos virão muitas outras versões de Batman, que sempre enfrentará os mesmos dilemas; Em vinte anos, os jovens que vêem High School Musical se lembrarão deste filme e de como aquilo falava diretamente a eles quando se formaram no colegial ou no ginásio;
- "Etnicamente" correto: O único negro no filme do Batman é um serviçal, um empregado do megamilionário. Ainda que uma pessoa moralmente irretocável, é um subalterno em relação ao protagonista; Em toda a série de HSM 3, os negros têm papel fundamental na interação com os protagonistas, não há nada de opressor e oprimido. Obama seria presidente no mundo de HSM 3, mas não no de Batman Begins;
- Pretensão x resultado obtido: Em um filme com intenção de temática adulta, Batman tem furos inacreditáveis e um bocado de besteirinha típicas e aceitáveis em filmes de herói. E filmes de herói não são feitos para reflexões profundas. Em um filme infanto-juvenil, a Disney criou uma obra-prima do gênero e perfeita para famílias assistirem pois estimula a prática de esportes, os estudos e o amor puro e inocente. Tanto que, apenas após três filmes é que vemos os protagonistas se beijarem.
- Souvenirs para macho: Somente homens têm "tesão" vendo Batman. No entanto, todos os produtos licenciados referentes ao filme são de personagens masculinos, nunca uma musa de Batman vira boneco. HSM 3 tem seus galãs e suas musas, você tanto pode ter um pôster de Troy quanto de Gabriela;
A forma mais simples de resumir é que Batman foi feito para ser endeusado por marmanjões com pontas de infantilidade e baitolice enquanto "HSM 3" é endeusado inocente e honestamente por jovens, sem maiores pretensões. Se querem prova maior disto, é só ver o comportamento de
críticos baitolas que, sem ter visto High School Musical 3, já o criticavam.
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