Crônicas do "Da C.I.A"

Monday, November 24, 2008

Desdém de um Corinthiano

O São Paulo pode ser campeão seguidamente quantas vezes quiser, nunca deixará de ser bi.

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"Se foi, não é nem será", Jânio de Freitas

Publicado originalmente na "Folha de São Paulo" de 23/11/2008.

Se foi, não é nem será
Jânio de Freitas

ASSINADO por Lula o decreto que altera as regras do sistema de telefonia, para permitir que a Oi/Telemar compre a Brasil Telecom e, exceto pequena área, tenha o monopólio da telefonia fixa no Brasil, por um instante preciso levar esta coluna de volta no tempo.
Véspera da posse de Lula em seu primeiro mandato, em 31 de dezembro de 2002, assim conclui o texto "Lula, uma pessoa", depois de narrar dois incidentes em que me fez acusação política injustificada e uma grosseria sem causa:
"Não apesar disso, mas também por isso, como por tudo o que soube a seu respeito, dou testemunho de que Lula tem sido uma pessoa de caráter provado e comprovado. Que assim seja o presidente".
O uso de "tem sido", e não de "é", refletiu três razões. Já passei pelo suficiente para ter uma pequena idéia da natureza humana em sua relação ambiciosa com as diferentes formas de poder; Lula entrava no teste de sua vida, e nada me habilitava, nem me habilita, a avalizar o futuro opaco; e, ainda, protegia-me de situações decorrentes de ultrapassar, se o fizesse, os limites factuais do que entendo como jornalismo.
Por sorte, nesse caso a experiência colaborou. O voto final daquele texto não se cumpriu. Nem mesmo com precaução redobrada, superei o sentimento de que nunca poderia escrever, sobre o Lula desde seus primeiros atos de presidente, o que escrevera sobre o Lula anterior pelo que dele soubera. O sentimento passou a convicção.
O favorecimento à Oi/Telemar e à Brasil Telecom é uma transação mais inescrupulosa do que todas de que possa lembrar. É fácil admitir que as empresas e seus controladores estejam adequados aos modos, meios e fins legítimos nos domínios do grande capital, onde são expoentes. Nem mesmo a participação decisiva de diferentes partes do governo poderia surpreender. Mas a transação não dependeu disso.
Quando cheguei ao jornalismo, sem a mais remota idéia de que ficaria, certo dia alguém me contou uma história que valeu para sempre desde ali. Era relativa à alteração que "o ínclito presidente Dutra", exemplo definitivo de moralidade e fidelidade ao "livrinho" da Constituição, fez na legislação de heranças. Ampliou o alcance de parentes não-imediatos à herança, na falta de parentes próximos. Tudo fora urdido na diretoria do "Diário Carioca", informada de que no interior de São Paulo uma bela fortuna vagava à falta de herdeiros habilitados.
Uma trama de cartórios e certidões gerou um parentesco enviesado, enquanto era obtida a concordância da Presidência para a alteração da lei. A fortuna encontrou um destino: foi rateada na fraternidade entre dirigentes do jornal e integrantes do governo. Quando a ouvi, pude comprovar que alguns traços da história já figuravam em certo livro de direito como o "caso Cantinho", do nome do morto sem herdeiros. Mas tudo foi feito e mantido na surdina.
Na armação do negócio Oi/Telemar-Brasil Telecom-governo Lula, até o mínimo escrúpulo das urdiduras encobertas ou disfarçadas ficou como coisa do passado. Há mais de meio ano, está escancarada a participação do próprio Lula, com o assegurado decreto de alteração das regras impeditivas do negócio. E, depois, com a necessária nomeação, para neutralizar duas discordâncias na Agência Nacional de Telecomunicações, de dois favoráveis ao negócio. Um deles, dirigente de uma das empresas da transação. Sem esquecer os R$ 8 a 10 bilhões com que, por ordem de Lula também divulgada à vontade, o BNDES e o Banco do Brasil vão ajudar a compra da Brasil Telecom pela Oi/Telemar.
Co-artífices da operação, o embaixador Ronaldo Sardenberg, presidente da Anatel, e Hélio Costa, ministro das Comunicações, que foi contra o negócio começado às suas costas e, por obra de algum dos milagres comuns nessas transações, de repente tornou-se entusiasta na linha de frente.
Engulo, mas não posso digerir, o voto inútil que fiz a Lula.

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Friday, November 14, 2008

"High School Musical 3" é melhor que "Batman - Dark Knight"

Fato mais transformador da minha vida, ser pai de meninas me permitiu ver coisas que não sei como viveria hoje sem. Discovery Kids, as péssimas animações da Barbie, os musicais da Disney, a beleza da cor rosa, chamar as coisas de "lindinhas", nada disso me seria permitido se não fossem minhas duas filhas. Quer dizer, seria permitido, mas não aconselhável, sob o risco de sofrer sanções homofóbicas. E assim, sob este álibi, fui ver o novo High School Musical. E graças a esta desculpa, posso afirmar sem medo: É muito, muito melhor do que o último Batman. Olha, mas é de goleada, a distância é gigantesca. Duvidam? Então abaixo vão os meus argumentos:

- Temática mais realista: O dilema de Batman é ser um milionário ressentido que passa as madrugadas a salvar a sua cidade. Troy Bolton e Gabriela Montez sofrem com a mudança de escola, a passagem para uma nova fase da vida. Todos passamos pelo que passaram os meninos de High School Musical; Nenhum de nós trocaria a farra e putaria para ficar correndo atrás de bandidos escrotos;

- Sussurros desavergonhados: As meninas vão ao delírio no cinema quando Troy aparece sem camisa. Muitos ficam empolgados quando o Batman coloca aquela roupa justinha, mas preferem manter a discrição;

- Ainda o realismo: É muito mais fácil encontrarmos um jogador de basquete que quer ser cantor e participar de musicais do que um milionário que se dedicou aos estudos, tornando-se um gênio, e às artes marciais, tornando-se um lutador imbatível;

- Personagens mais complexos e criativos: A heroína de High School Musical, um filme para jovens, é muitas vezes irritante, mas ao final adorada. A "vilã" do filme é a personagem feminina preferida das crianças, garantindo-lhes divertidos momentos. A verossimilhança do que é vivido pelo personagem principal nos faz entrar na história; Já em Batman, o herói tem uma voz de Darth Vader inexplicável, o Coringa, tido por genial, é uma mistura do estuprador pedófilo de Prison Break com o Alex de Laranja Mecânica;

- "Liga" com o público: Nos próximos vinte anos virão muitas outras versões de Batman, que sempre enfrentará os mesmos dilemas; Em vinte anos, os jovens que vêem High School Musical se lembrarão deste filme e de como aquilo falava diretamente a eles quando se formaram no colegial ou no ginásio;

- "Etnicamente" correto: O único negro no filme do Batman é um serviçal, um empregado do megamilionário. Ainda que uma pessoa moralmente irretocável, é um subalterno em relação ao protagonista; Em toda a série de HSM 3, os negros têm papel fundamental na interação com os protagonistas, não há nada de opressor e oprimido. Obama seria presidente no mundo de HSM 3, mas não no de Batman Begins;

- Pretensão x resultado obtido: Em um filme com intenção de temática adulta, Batman tem furos inacreditáveis e um bocado de besteirinha típicas e aceitáveis em filmes de herói. E filmes de herói não são feitos para reflexões profundas. Em um filme infanto-juvenil, a Disney criou uma obra-prima do gênero e perfeita para famílias assistirem pois estimula a prática de esportes, os estudos e o amor puro e inocente. Tanto que, apenas após três filmes é que vemos os protagonistas se beijarem.

- Souvenirs para macho: Somente homens têm "tesão" vendo Batman. No entanto, todos os produtos licenciados referentes ao filme são de personagens masculinos, nunca uma musa de Batman vira boneco. HSM 3 tem seus galãs e suas musas, você tanto pode ter um pôster de Troy quanto de Gabriela;

A forma mais simples de resumir é que Batman foi feito para ser endeusado por marmanjões com pontas de infantilidade e baitolice enquanto "HSM 3" é endeusado inocente e honestamente por jovens, sem maiores pretensões. Se querem prova maior disto, é só ver o comportamento de críticos baitolas que, sem ter visto High School Musical 3, já o criticavam.

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São Paulo, 1943

Pausa na programação normal do blogue. Talvez isto já tenha sido divulgado por aí, mas somente hoje vi este vídeo, recebido por e-mail.
Das coisas mais lindas que já vi, faz com que eu sinta saudades de coisas que não vi e querer viver em um tempo em que não vivi.
Com vocês, um documentário feito pelo "U.S. Office of the Coordinator of Inter-American Affairs" apresentando a promissora cidade de São Paulo em 1943.

http://br.youtube.com/watch?v=InWifglIkQ0
P.S.: O YouTube é realmente espetacular!

Wednesday, November 12, 2008

Quem roubou o meu Obama? - J.P. Coutinho

Originalmente na Folha de 11/11/2008

EXMOS. SENHORES da Folha: Recebam os meus melhores cumprimentos.
Três semanas atrás, ao ler a minha coluna na Ilustrada, tive a desagradável surpresa de encontrar um tal de João Pereira Coutinho que, assumindo o meu nome e até o meu estilo literário, proclamava arrogantemente que John McCain seria o próximo presidente americano. O texto, "John McCain, Presidente", despertou, como seria inevitável, reações violentas nos leitores. Dois deles tiveram apoplexia hilária, uma forma rara de gargalhada demencial que requer internação e cuidados intensivos.
O objetivo do farsante era, naturalmente, desqualificar-me em público e mostrar minha ingenuidade em política. Não pretendo levantar suspeições, embora três nomes me aflorem imediatamente: Nelson Ascher, Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi. Sim, três terríveis direitistas que, impedidos de derrubar o presidente Lula, decidiram derrubar o presidente Obama por escrito, usando meu pobre nome como proteção para seus golpes.
Pretendo processar os três e enviar o responsável para Cuba, para a Coréia do Norte ou para a USP, dependendo do orçamento. Mas, para repor a verdade conspurcada pelo farsante, republico aqui o texto original (e inédito) que deveria ter sido publicado no fatídico dia 21/10. Intitula-se, apropriadamente, "Barack Obama, Presidente": "Colunistas têm de ser responsáveis: uma coisa são as suas preferências; outra, a dura e cruel realidade. Gostaria que John McCain vencesse. Em setembro, antes da crise econômica e financeira estourar, acreditei que sim. Mas é Barack Obama quem vai ganhar no próximo dia 4. As pesquisas não mentem, apesar de tradicionalmente serem bondosas para os democratas. E existe ainda o "efeito Bradley", ou seja, votantes que, na hora H, permitem que o preconceito racial tenha a palavra decisiva.
Esqueçam. Dessa vez, não haverá "efeito Bradley" para ninguém.
Mas comecemos por McCain.
Por que motivo a minha bola de cristal desautoriza qualquer confiança no bicho? Porque o bicho é velho. Numa cultura dominada pelo mito da juventude, isso é mortal.
A juntar à velhice do bicho, temos Bush e a crise. McCain está demasiado colado ao primeiro. E McCain não é a pessoa certa, aos olhos dos americanos, para lidar com a segunda.
A pessoa certa é Obama. Negro?
Verdade. Mas a raça não será um fator decisivo, como foi no passado. Pelo contrário: os americanos vão premiar Obama precisamente por ele ser negro. Americano é idealista. Americano acredita que a república dos "founding fathers" continua a ser "a cidade no cimo da colina". Um presidente negro é a suprema consagração da excepcionalidade americana. Quem resiste ao lado sentimental do filme?
Nem poderia ser de outra forma.
A campanha de Obama foi profissional e eficaz. E rica: mais de US$ 600 milhões para gastar em propaganda e captação de eleitores. A retórica e a juventude do candidato fizeram o resto. Não ter Sarah Palin como vice, também.
Por isso, olho minha bola de cristal e prevejo: mais de 90% dos negros votarão em Obama; mais de 60% dos latinos, também; idem para os asiáticos; os jovens estarão com ele, sobretudo os que votam pela primeira vez; e as mulheres; e os mais pobres; e os mais ricos; e até uma fatia generosa de brancos, algo como 42%. Melhor: 43%.
E nos Estados em disputa? Bem, vocês estão pedindo muito de um simples colunista. Mas prevejo, sem dificuldades, que Obama vencerá em redutos tradicionalmente republicanos (como Virginia ou Indiana, Estados republicanos desde 1964). E roubará os Estados de Iowa, Novo México, Nevada, Colorado e a fatal Flórida.
Moral da história? A minha bola de cristal só tem um nome: Obama.
E uma vitória com 52% dos votos, ou seja, uns 63 milhões de americanos obamistas, recorde total.
McCain não passará dos 56 milhões de votantes. Não acreditam?
Confiram no dia 4.
E agora, se os leitores me permitem, vou descansar um pouco a minha genial cabeça e preparar-me para assistir ao Corinthians x Ceará no próximo dia 25. Não confundo alhos com bugalhos. Mas se o Corinthians não vencer por 2 a 0 o Ceará, com gols de Douglas (primeiro tempo) e Chicão (segundo tempo), eu não passo de um farsante."
Reposta a verdade dos fatos, renovo os meus melhores cumprimentos.
João Pereira Coutinho, o próprio.

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