Crônicas do "Da C.I.A"

Tuesday, August 19, 2008

Blockbusters decepcionantes: Wall-E

Este é a segunda maior decepção dos grandes blockbusters do ano. A maior é o Batman, que vai resenhado acima.

Projeto mais ambicioso da história dos ambiciosíssimos da Pixar, Wall-E é um pé-no-saco! Embora tenha os primeiros 15 minuto s mais belos da história do estúdio, é um filme muito, muito, muuuuuuiiiiiiito chato.
Quem vai ao cinema ver uma animação da Pixar sabe bem o que esperar: Um filme divertido com história supercriativa e perfeitamente bem montado. Wall-E não é divertido, é tolinho na tentativa de surpreender e tem desenrolar da história "nas coxas".
Fui ver Wall-E com minha filha mais velha. Foi a primeira vez em que fomos somente nós dois. E foi sem sombra de dúvidas o filme que mais a desagradou! Entendam: Minha filha tem 2 anos e 8 meses mas assiste e compreende muito bem filmes. E não é nenhum erro dizer que ela faz parte do público-alvo majoritário da Pixar, aquele grupo das "crianças que os pais usam como desculpa para ir ao cinema ver animação". Aliás, o primeiro longa metragem que minha filha encarou no cinema foi a melhor obra da Pixar até agora: Ratatouille ( mas isto é outro assunto. Ou não? ).
Enquanto eu me maravilhava com a competente e emocionante introdução do filme, em que vemos o robô trabalhando com afinco em um cenário apocalíptico do pós-humanidade, minha filha já começava a querer correr pela sala. E não era só ela: Outras crianças mais velhas que compareceram à sessão já estavam fora de seus lugares antes mesmo da história partir para o espaço. Aliás, a história vai para o espaço em todos os sentidos possíveis.
Eu não sei quanto aos outros, mas dificilmente eu tiraria de uma animação reflexões maiores sobre mim, sobre a humanidade e seus rumos. Wall-E pretende-se a isto e com tanta confiança que até provoca certo tipo de cinéfilo: Na humanidade que restou e que vive no espaço, somos todos glutões sem mobilidade, sem vontade própria e que nos empaturramos em copões enormes de guloseimas. Imagina só, quem faz da crítica artística um trampolim para análises políticas e sociológicas logo vibrou pois eles estariam cuspindo na cara do consumismo inconsequente de seu público que vai ao cinema e pega aqueles potes enormes de Coca e Pipoca.
Não é a toa que em blogues esquerdinha ou mesmo em sites de crítica de cinema com alguma conotação política o filme foi elevado aos céus como obra-prima e genial. E é engraçado que todos estes que fizeram análise sociológica do filme foram cegos e estúpidos! Eles viam que os seres humanos eram gordos, mas não perceberam que no que restou de humanidade não havia fome. Eles enxergaram a submissão de nossas vontades à propaganda e aos robôs, mas não notaram que neste futuro não existiria a "exploração do homem-pelo-homem". Não viram que ali não havia pobreza e nem desemprego. Para eles, aquilo no futuro é um passo atrás. Só que intencionalmente eles se esqueceram que todas as mazelas de nosso presente, justamente aquelas que justificam todas as planificações miraculosas de transformação da sociedade ( pobreza, fome, desigualdade social, desemprego, violência ) inexistem no futuro. Onde eles vêem um erro no futuro pregado pela Pixar, eu vejo mérito: Ora bolas, o homem construiu uma civilização tão espetacular que pode até mesmo abdicar da Terra e seus destemperos, juntamente com tudo o que há de ruim na nossa civilização.
Quanto ao filme em si, ele dá aquela acelerada na história em certo momento que nos faz pensar que o roteiro partiu de uma grande idéia central, mas não foi bem desenvolvido nas nuances. Desde a hora em que o robô-apaixonado entra na nave humana, o trabalho detalhista de cada passo do roteiro é deixado de lado para que surjam muitas informações novas ( e muitas legais ) ininterruptamente, deixando em segundo plano o roteiro e os cenários por um bom tempo.
Não, as falhas sociológicas da visão da Pixar não deveriam ser bastantes para uma má-avaliação do filme. Mas isto tudo só vem à tona por esta pretensão do estúdio em fazer deste filme um vulcão para jorrar reflexões no público. Fosse apenas uma animação divertida com este fundo, talvez funcionasse e eu me sentisse realizado ao sair da sala ( minha filha estava banhada em suor, de tanto correr e se divertir pelos corredores da sala. Tudo graças ao filme sem-graça ). Fosse um filme a se levar a sério de verdade, jamais os personagens principais seriam dois robôs que se apaixonam, ora bolas! Tento me lembrar de um momento que seja em que a sala toda riu. Simplesmente não houve, a não ser aquela hora em que minha filha esticou a perna no alto de uma cadeira e caiu.

3 Comments:

  • O primeiro deslize foi em Nemo e o mergulhador malévolo que captura peixinhos de coral; ó vilania! Ok, os cientistas raptam criaturas da natureza o tempo todo, as reproduzem em laboratório onde viverão uma existência miserável e distante da natural, submetem-nas a cruéis, brutais e geralmente mortíferas experiências, e a ‘pogrefistaiada’ de Hollywood e da Pixar adoram os cientistas. Espero que nenhum membro da empresa possua um aquário em casa, esse hobby/enfeite desprezível assassino de peixinhos trabalhadores. Em seguida vemos a degradação da costa de Sidney, poluída, escura, com criaturas não muito amigáveis, como se fosse um Bronx de tempos passados, tão mais feia que o lindo e reluzente coral. É o preço de salas de cinema e estúdios de animação. Quem quiser costas limpinhas pode ir lá para uma micro-ilhazinha do pacífico onde não haverá cinema, nem estúdios de animação. Finalmente encontramos nossos heróis peixinhos de coral presos no aquário do dentista/mergulhador, recebendo alimentação diariamente, nadando numa água limpinha e bem oxigenada, protegidos de qualquer predador por toda a vida, mas sentindo-se arrasados; encontraram o paraíso do peixe de coral, mas desejam voltar ao mar. É claro que peixinhos de coral não se importam em ter mais espaço para nadar, já que mal nadam muito mesmo, ou viver no ambiente mais rico dos corais se pudessem trocar essas coisas por comida e proteção garantidas e vitalícias, porque é isso que um peixe de coral almeja. Só podemos nos compadecer dos peixinhos e compreender seu anseio por liberdade se fizermos a pretendida analogia humana. Mas, humanamente, os peixinhos estão vivendo o ideal socialista: estão todos em iguais condições, obedecendo a hierarquia partidária, o líder do Partido comanda, o faxineiro limpa, e o resto vive no ócio de uma sociedade pós-industrial. Qual o problema? Não estão no mar? É o preço do artificialismo socialista. São prisioneiros do dentista burguês? Assim como os países socialistas sempre dependeram do dinheiro burguês externo, ao menos até que desistam de estatizar a economia. Só lhes falta a reprodução, mas, quê! Não vivemos na era do controle populacional? Então não lhes falta nada.

    Em seguida vimos a nostalgia de Cars pelas antigas estradas interioranas, quando viajar significava conhecer todo o interior do país, atravessar cidadezinhas à beira da estrada, sem pressa, aproveitando o tempo. Até que o complexo militar-industrial-capitalista decidiu cortar tudo com Highways retinhas, planas e com meia dezena de pistas. Bom era antigamente, agora ninguém vê o país, as cidades à beira de estrada morreram ou estão morrendo e viajar é uma chatice, é entrar num carro e andar a 100 por hora numa estrada reta sem ver nada, chegar num lugar e depois voltar. O diretor da Pixar e de Cars é que é bacana, porque alugou um Mobile-Home para fazer uma viagem com a família pela Rota 66 e outras estreadas secundárias, nunca as Highways, aproveitando não só o destino, mas o próprio percurso, sem pressa. Lindo. Porém, só um socialista com paycheck de centenas de milhares de dólares e que vive de um emprego com relativamente longos intervalos entre trabalhos para poder alugar um ônibus por período indefinido e passar dias sem fim no puro ócio, aproveitando a família. Assim é fácil, dê-me cem mil dólares que amanhã mesmo eu embarco numa viagem Brasil afora só por estradas secundárias. Esse cretino ignora ou finge ignorar que todo o resto da população não pode arcar com a brincadeira, ou então viveríamos todos de Social Security até quebrar o programa, que as Highways são chatas e escondem o país, mas indispensáveis para manter o padrão de conforto material atual. Quando o diretor gordão tiver um ataque cardíaco e precisar ir correndo ao hospital, suponho que optará pelas Highways, quando precisar visitar a mãe doente, suponho que optará pelas Highways, se um dia precisar fazer um negócio rápido em outra cidade, optará pelas Highways, se precisar fugir de um furação, terremoto ou qualquer outro desastre natural, optará pelas Highways, etc. As Highways são uma benção para a mobilidade e reclamar delas só mesmo um débil mental ingrato que as circunstâncias de uma sociedade hedonista fez enriquecer imerecidamente. As rotas secundárias são muito bonitinhas mesmo, mas só servem para férias sem destino, com um destino tão insignificante que o próprio percurso oferece competição ou que não é tão interessante assim para lhe convocar o mais rápido possível. Experimente levar seus filhos à Disney World pela primeira vez através de estradas secundárias, com a ciência do destino por parte deles. Será “Are we there yet?” a cada dez segundos. E se você, senhor diretor/sócio da Pixar, precisou de uma viagem num ônibus apertadinho para aproveitar a família pela primeira vez, você é um pai de merda que vive numa família de merda, num piloto automático que apenas a quebra de rotina fez despertar de um torpor solipsista. Que é que o senhor fazia no seu tempo livre? Ignorava seus filhos para ir assistir TV? Que culpa as Highways tem da sua própria estupidez? Todo pai que leva seus filhos ao cinema para assistir aos filmes da Pixar, como o Angelo da Cia, pode se dispensar da necessidade de uma viagem num ônibus para aproveitar a família, ainda que, de fato, viagens em família tenham esse efeito, mas seja num ônibus ou num hotel, desde que a família passe quase todo o tempo juntos.

    Excluindo a nostalgia de Cars, é um filme medíocre, mas não detestável; excluindo aqueles detalhes de Nemo, é um filme bacaninha. Mas pelo que você diz nada salva Wall-E, exceto a capacidade de transformar uma sala de cinema num parquinho.

    Por Blogger João Batista, às 21/8/08 08:53  

  • Cars é ruim de tudo, independente das opções "sociológicas" que você destacou. Nemo é divertidíssimo e funciona como uma animação deve funcionar: É engraçado, divertido, e tem algumas boas sacadas.
    Agora Wall-E é de lascar mesmo... Paguei R$20 para minha filha correr em um lugar encarpetado e com ar-condicionado no limite!

    Por Blogger Da C.I.A., às 21/8/08 11:26  

  • Ich meine, dass Sie sich irren. Es ich kann beweisen. levitra 20mg viagra nebenwirkungen [url=http//t7-isis.org]cialis online[/url]

    Por Anonymous Anonymous, às 31/12/09 20:25  

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