Crônicas do "Da C.I.A"

Tuesday, August 19, 2008

Blockbusters decepcionantes: Batman

O problema do novo Batimão ( by Cebolinha ) é semelhante ao do Wall-E, que foi resenhado abaixo. Leiam o próximo post se quiserem saber o que liga o robô apaixonado ao Cavaleiro das Trevas.

Por que diabos um cara não se toca que filme de herói é filme de herói, deve ser divertido, inverossímil, cheio de explosões e com alguns diálogos intencionalmente bobinho-filosóficos? Não, o novo Batman pretendeu ser o filme cabeça com fundo bobildo. Desde o primeiro filme da nova leva do Batman, é visível que o diretor não gosta de filmes de herói, nunca deve ter passado perto do mundo das HQs e faz questão de esfregar na nossa cara que aquilo tudo é uma bobagem. Acontece que nós, que lemos em algum momento de nossas vidas HQs, nós que gostamos de filmes de herói divertidos, já sabemos de tudo isto. E é por não levar tais filmes a sério que, em não esperar deles grandes coisas além da diversão, saímos encantados quando o filme nos diverte com certa inteligência.
Só que vem este diretor do Batimão e tenta provar meticulosamente, e de uma forma que menospreza toda a lendária e vasta história do personagem, que tudo do Batman tem um fundo de verdade! Ele luta muito bem? É porque foi treinado por mestres num lugar isolado. Ele aguenta porradas que o fariam rir no Paixão de Cristo de Mel Gibson? Tudo porque o treinamento no frio o deixou super forte. Ele tem um aparato tecnológico inimaginável? Ora, tudo porque a empresa dele trabalha com tecnologia de Defesa. O Batmóvel é tudo o que a humanidade jamais construiu em um veículo? É que a empresa dele estava desenvolvendo um projeto destes, há muitos anos.
E não é que muito amigo meu que já leu revistas gostou desta baboseira toda? É verdade, até quem lia revistas do Batman achou legal esta nova versão para a formação do herói. Alguns chegaram até a falar que o filme era espetacular, um filme sério mesmo, sem as bobeiras sem explicação típicas dos filmes de herói. Ponto para o diretor: Ele cuspiu na platéia e foi aplaudido.
Tudo bem que um público menos rigoroso tenha visto em Batman algo espetacular ou revolucionário. Mas, como explicar que um Arnaldo Jabor se derreta em louvores a tal filme? Aliás, Jabor e outros tantos de "O Globo", como pode ser visto neste link . Olha Jabor, eu geralmente não gosto das suas análises ou críticas políticas. Olha Jabor, eu em quase nada me alinho a você, seja ideologicamente ou culturalmente. Ainda assim, eu imagino que você tenha uma certa cultura, bastante para não cair em armadilhas tão triviais quanto as que Nolan embute em Batman. Ah, e como é que ninguém notou que este Coringa tem muito, muito a ver com o terrorista de V de Vingança? Ou melhor, que tudo isto que eles viram de profundidade e complexidade moral, toda esta relação entre anarquia, controle, ordem e caos havia no V de Vingança? Ah, se Arnaldo Jabor visse aquele filme...
Em uma de suas primeiras falas, Coringa faz uma citação jocosa de um dos muitos aforismas populares de Nietzsche. Tá aí, quem tem um pingo de cultura já vê neste trecho um motivo para se distanciar da multidão de iletrados. Esta fala do Coringa representa algo como os primeiros 30m das corridas de velocidade para Usain Bolt: A partir dali, a massa dos comuns não nos alcança mais.
Não é a toa que a maioria das críticas profundas do novo Batman fala em "uma nova Moral", "uma subversão da Moral", "afronta à Moral comum". Usam e abusam da palavra "Moral", e de preferência com maiúscula no início. É um código, digna dos manuais de Maçonaria para se diferenciar da multidão e encontrar reciprocidade nos semelhantes. Incrível que tratando tanto de Nietzsche, especialmente dos maiores clichês de suas obras ( alguns usam como fundo à crítica o "Para além do Bem e do Mal", outros usam a "Genealogia da Moral" ) mas se esquecem de um só que já bastaria para jogar água em um dos grandes dilemas Morais do filme: O do Espírito de manada. Ora bolas, se há uma multidão em pânico e em fuga, correndo risco de vida e cuja única garantia total de sobrevivência é a eliminação total de uma outra multidão em semelhante situação mas formada em sua maioria por presidiários perigosos, o filme nos eletriza com a dúvida se alguém será capaz de se responsabilizar pela morte do outro grupo. E, inacreditável, no dilema formado pelo grupo de pessoas do "Bem", faz-se uma votação, as pessoas discutem, muitos lembram o fato de no outro grupo haver bandidos que escolheram o "Mal", patati patatá, mas ninguém tem a coragem de se responsabilizar pela morte do outro grupo? Ora bolas, numa multidão em desespero e tomada pelo ódio, a coisa mais comum é alguém descer à vala moral e cometer absurdos para sobreviver. Se temos então todos a gritar pelo ato podre, porque não um ou mais se ofereçam como o grande salvador de todo o grupo? Imaginar que ninguém, ninguém dali estaria disposto a sujar as mãos, ou meter a mão na merda, como já disse um filósofo brasileiro, é de uma inocência fantasiosa digna de filmes de super-heróis, em que deixamos passar batido. Só que não é tolerável em um filme que se pretenda a debates tão profundos!
Há muitas outras licenças que deixaríamos passar batido se fosse apenas mais um filme de super-herói. Não, Nolan e os que embarcaram na sua onda querem ver ali algo além dos filmes de herói, então não podemos aceitar certas coisas como:
- O Batman e o superpromotor serem apaixonados justamente pela mesma mulher sem que para isto se dê uma explicação mais razoável ( tá bom vai, ela ama a justiça, assim como o promotor );
- A super-armadura ser a prova de tudo, menos de dentadas de Rotweiller;
- Os caminhões da SWAT serem menos velozes e empurrados pela velocidade de caminhões de lixo;
- Batman tem uma voz distorcida por algum aparelho invisível, que ninguém sabe, eles não explicam. Ou então Bruce Wayne tem o falsete mais bizarro da história do cinema;
- Uma superarmadura superpesada que é perfeitamente controlada como uma asa delta em sua primeira queda e sem levar em conta condições básicas como a direção do vento;
- Uma pessoa de quem não sabemos nada simplesmente aparecer e conseguir deixar de quatro todas as gangues de uma cidade grande e toda a polícia;
- Alguém conseguir se articular tão perfeitamente para, no espaço de alguns dias: Doutrinar e treinar pessoas para roubar bancos , invadir sozinho uma reunião em que estão presentes todos os chefes do crime de uma metrópole sem dar um disparo sequer, conseguir colher amostras de DNA de toda a elite da Segurança da cidade, conseguir assaltar ônibus escolar e caminhão de lixo para usar em seus golpes, sobreviver sozinho a uma explosão em distrito policial em que todos os outros se dão mal. Detalhe: Este alguém é mostrado como um psicótico inconsequente, mas também genial. E com superforça, digna de dar um pau no Batman.
Repito: Tudo isto passaria batido em um filme de super-herói normal. Tudo isto num filme do amigo da vizinhança teria até graça.
O novo Batman me fez muito lembrar do Hulk de Ang Lee com a diferença que o filme do monstro verde, desde antes da estréia, já era um lixo pelas horríveis cenas de computação gráfica: O Hulk não tinha peso nas cenas do deserto e não tinha "inserção" nas cenas da cidade. Além da má expectativa que já havia sobre o Hulk, para piorar há um final terrível, uma luta final grotesca demais que somente reforça tudo o que se esperava de ruim do filme. Ali pelo meio, a primeira hora do filme eu acho muito boa, acredito que Ang Lee conseguiu administrar com maestria a tensão e ansiedade que temos em ver logo nossos heróis dando porrada nos homens maus. Ainda que Hulk não fosse um herói!
Batman é hype desde muito antes da estréia. Seus trailers espetaculares, a maquiagem surpreendente do novo Coringa e, por fim, a morte do intérprete do Coringa antes do lançamento criaram um clima de ansiedade nunca antes vista e que deve ser a principal razão para o estouro de bilheteria do filme. Alguém se lembra do "MTV Unplugged" do Nirvana? Então, ele foi gravado um dia, exibido semanas depois com algum sucesso na MTV americana mas, com o suicídio do vocalista, foi lançado comercialmente meses após com um enorme sucesso. Para os fãs do Nirvana, e eles eram e são muitos, era como um registro póstumo da obra do autor.
Eu gostei do filme do Batman como gosto de filmes bobinhos de herói, fazendo vista grossa para aquelas coisas que sabemos impossíveis. Como filme de herói, Batman está entre os 5 melhores da retomada de produções das duas grandes editoras de quadrinhos, Marvel e DC. Como minha opinião é exceção na massa crítica do filme, espero que este filme não finque uma herança maldita nos bons filmes de heróis. Se o Nirvana Unplugged nos trouxe a maldição da tradição de "Ao Vivos" e "Unpluggeds" trazerem sempre versões participações no palco de outros artistas, espero sinceramente que Capitão América não venha trazer a tona imperativos categóricos, que os Vingadores não tratem do sentido de serem heróis e, acima de tudo, que uma presença de Namor não seja uma ode ao Bom Selvagem!

2 Comments:

  • Eu também detestei a crítica do Jabor. Ele adora esses personagens amorais: Hannibal, Coringa, Jack Sparrow.
    Mas a pior crítica foi a do Arnaldo Bloch. Blargh!

    Se bem que, geralmente eu discordo do Jabor. Mas adorei o Batimão! Que venha "Batman vs Superman". Lembra do logo aparecendo em "Eu sou a lenda"? Pois é...

    Por Blogger Blogildo, às 19/8/08 16:35  

  • defecando pela boca...

    Por Anonymous Anonymous, às 15/1/09 17:49  

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