Crônicas do "Da C.I.A"

Tuesday, December 30, 2008

"Da CIA Records", Volume 1

O Rock'n roll nem sempre foi esta coisa terrível encenada por emos, new metals ou bandas brasileiras que misturam rap-dub-samba-macumba-maracatu etc... Entender a história e a evolução do rock, especialmente em seus primórdios, é flertar com a história da música popular, de como ela absorveu e abstraiu tantas coisas da música erudita, canções de ninar e cânticos de bêbados e batalhões.
Há uma época fundamental do rock and roll, um período mais ou menos curto em que as coisas se fundiram e transformaram definitivamente. Difícil dizer quando começou, mas para saber quando terminou, uma fala do filme Almost Famous é muito precisa... O filme se passa em 1969, e temos o jovem William querendo entrar no jornalismo, para cobrir bandas de rock, quando conhece um famoso crítico de música. Eles têm o seguinte trecho de conversa, que vai abaixo:
O crítico, falando dos artigos que William lhe enviava, escritos para o jornal da escola:

Well, your writing is damn good. It's just a shame you missed out on rock and roll
I did?, respondeu William.
Oh yeah, it's over. You got here just in time for the death rattle, the last gasp, the last grope, retruca o crítico.

Ali, algo por 1969, da passagem de 1969 para 1970 acabou o rock'n roll. Alguns podem dizer que ainda após veio Led Zeppelin, AC/DC, Red Hot Chili Peppers, Alice in Chains, Pearl Jam, Queen, veio muita coisa boa de Dylan, The Who, Clapton, Rolling Stones e tantos outros deuses do rock que surgiram antes do rubicão do rock e ainda assim conseguiram grandes feitos. Não, depois da transição que o rock viveu entre seu surgimento e 1970, quando deixou de ser uma música apenas de negros bons de voz e passos, e se tornou uma forma de rebeldia, miscigenação, protesto e tantos experimentos artísticos, o que veio depois pode ter a qualidade que for, não é mais "rock and roll"; pode ser rock, pop rock, ou todas as outras vertentes, mas aquele rockzinho com coros, com poucos instrumentos, onde a voz era um instrumento e com as ranhuras das gravações mais pobres e limitadas tecnicamente, nunca mais existiu de verdade.
Não é questão de saudosismo, embora seja muito comum eu ter saudade dos tempos em que não vivi, só que aquela era "a" época do rock and roll. E é para saudar este tempo que trago aqui uma pequena coletânea, para download, com músicas aleatórias, algumas muito famosas, outras nem tanto, mas que, cada uma em seu estilo, ajudam a mergulhar nesta transformação maravilhosa que afetou toda a humanidade. Não há nenhum critério exato para a escolha das músicas, apenas escolhi algumas que não são muito conhecidas ou que alguns conhecem, já ouviram em algum lugar mas não têm muita certeza de quem canta.
Vai abaixo então a primeira coletânea "DaCIA Records", para aqueles que como eu gostariam que voltasse um tempo que não nos pertenceu.
O link para download: http://www.4shared.com/file/78193996/8b59fec2/Da_CIA_Records-Vol1.html

Agora, as faixas, com pequenos comentários:
1- Paul Anka, "You are my destiny". Lançada em 1958 pelo canadense de ascendência libanesa, é uma típica balada deste talentoso cantor e compositor que para muitos é sinônimo de música brega. Talvez esqueça-se que o mesmo é compositor de uma das mais belas interpretações de Sinatra, "My Way". Talvez esteja perdido no meio desta lista composta por rockzinhos mais típicos, mas é o melhor símbolo desta mistura que trouxe pitadas de erudição ao rock'n roll. Reparar na evolução da música, em como hábil e sutilmente sobe-se o tom da música, e como os coros de fundo são o mais importante instrumento da parte final. Detalhe: Esta é a única música da lista que não possui uma nota sequer emitida por guitarra! ( http://www.youtube.com/watch?v=uCDcoOeh_Bc )

2- Chubby Checker, "Limbo Rock". Um clássico no sentido mais amplo do termo. O excelente cantor Chubby Checker, ainda na ativa mas com limitações quanto à "Limbo dance" é um dos maiores no segmento que, na falta de melhor opção, ainda chamam de "Twist". Assim como a primeira, deve ter tocado em muitas festas e bailes dos anos 60, só que em outro momento, na hora em que todos dançavam e se divertiam. A canção está presente em muitos filmes e seriados, desde uma versão nos Backyardigans até uma em que Sebastian do desenho Pequena Sereia a canta. ( http://www.youtube.com/watch?v=ApXPd4WSP24 )

3- Gerry & The Pacemakers, "You'll never walk alone". Lançada em 1963 pelo grupo que então fazia frente aos Beatles, esta é uma canção do musical da Broadway "Carousel". Uma canção em musical mas com tantos contornos pops que acabou até mesmo virando hino do Liverpool Football Club, e a canção na versão dos Pacemakers é executada sempre antes dos inícios de jogos dos Red's. Aliás, ver a fanática torcida do clube entoando o hino é um dos momentos mais belos do futebol, de emocionar qualquer um, até quem torce para os adversários. Sobre a letra, tem uma temática encorajadora, de superação, de "erguer a cabeça e seguir em frente", tão auto-ajuda mas ainda assim tão bela. E, na minha particular opinião, é difícil não dizer que o clássico do R.E.M. "Everybody Hurts" não é diretamente influenciado por esta obra-prima: Reparem que a temática é a mesma, e mesmo a evolução da música, que começa lenta e tratando das dificuldades ( "When you walk through a storm hold your head up high" em uma e "When your day is long/ And the night/ The night is yours alone" na outra ) e fica intensa na hora do refrão redentor e de superação( "Walk on, Walk on/ With hope in your heart" em uma e "Cause everybody hurts/ Take comfort in your friends"). Enfim, uma canção extraordinária. ( http://www.youtube.com/watch?v=2zy3CeI0FCY )

4- Gerry & The Pacemakers, "How do you do it". Também de 63, esta canção foi oferecida por Epstein aos Beatles, que fizeram alguns takes mas preferiram ignorá-la e continuar trabalhando as próprias canções. Foi uma escolha louvável: Ainda que "How do you do it" tenha virado número 1, os Beatles conseguiram colocar "From me to you" em substituição a esta no topo das paradas. Foi o primeiro grande sucesso de Gerry e seus pacificadores e aqui ainda era difícil de se perceber as grandes qualidades vocais do mesmo. A letra é ideal para iniciantes em cursinhos de inglês, com letra bem simplizinha, tão típica dos muitos grupos vocais surgidos na terra da rainha nos anos 60. ( http://www.youtube.com/watch?v=2zs7OtsvvT4 )

5- The four seasons, "Silence is Golden". De 1964, esta belíssima canção do grupo "Four Seasons" é dificílima de encontrar na internet, razão pela qual inclui no álbum a versão do também muito bom grupo "The Tremeloes", que a regravou cinco anos depois. Curioso que, no original, ela foi lançada como B-Side da canção "Rag Doll", que conseguiu a difícil proeza de ser número 1 no ano da Beatlemania nos EUA. Música bem lenta e com belo trabalho de vozes, como não se vê mais hoje em dia. ( http://www.youtube.com/watch?v=8S9Olo9sis0 )

6- The Troggs, "With a girl like you". Lançada em 1966, esta música não é uma versão do "The Rutles" , que por sinal tem uma melodia muito parecida à de "If i Fell", lançada pelos Beatles no mesmo ano. Ouçam e percebam... Parecido, não? Pois era proposital, "The Rutles" era uma banda paródia dos Beatles, e esta canção está no álbum "A Hard day's rut", tudo história inventada muitos anos após a Beatlemania, inclusive o vídeo indicado no link. Eu devia falar de "With a girl like you" dos Troggs, que eram originalmente "Os Trogloditas". Falando da banda e da canção, ouçam bem e não se enganem com a letra bobinha e alegrinha, mais uma típica da época: Ouça as guitarras, a voz anasalada e forte... Sim, é a mesma banda que anos após gravou "Wild Thing". O vídeo que indico é engraçado por estarem desssincronizados imagem e som. ( http://www.youtube.com/watch?v=ijSxDesidiY )

7- Beach Boys, "God only knows". De 1966, da única banda americana que conseguiu por algum tempo fazer frente aos Beatles. Talvez nenhuma banda de seu país tenha sido tão competente nos trabalhos vocais como os Beach Boys, liderados por Brian Wilson. Esta canção é uma das maiores "quebradoras de paradigma" dos anos 60: Tem "Deus" no título ( coisa rara e difícil para uma banda de rock ) e possui alguns instrumentos nunca antes usadas em gravações do tipo. Belíssima, belíssima, está presente em um dos melhores álbuns de todos os tempos, "Pet Sounds", espécie de "Sgt Peppers" do Beach Boys. ( http://www.youtube.com/watch?v=Cb9u0DHuFdQ )

8- Beach Boys, "Wouldn't it be nice". Juntamente com a música anterior compõe como lado "A" aquilo que podemos chamar de o melhor single já lançado por uma banda que não os Beatles. A letra é de uma maturidade destoante, em plena época da juventude eterna o compositor pretende ser um pouco mais velho, adiantar o tempo para poder ficar com a amada. A estrofe final também é muito boa, embora com rimas pobres, a intenção não era rimar mesmo, apenas compôr uma linda história de amor intenso, tão intenso que chega a fazer sofrer o que não se pode ainda viver. Piegas, breguinha? Ora, e quem não é assim quando ama fortemente na juventude? ( http://www.youtube.com/watch?v=L--cqAI3IUI ).

9- The Turtles, "Happy Together". De 1967, único número 1 da banda, conseguiu a proeza de tirar do topo das paradas uma canção como "Penny Lane", daquela banda que nem preciso repetir o nome. Mais uma canção consagradora, de abertamente de amor, sem vergonha de ser extremamente feliz, funciona mais do que muitos livros de auto-ajuda. Poucas canções de "One Hit bands" conseguiram se tornar tão onipresentes na cultura pop como esta, que pode ser encontrada em episódios de Anos Incríveis, de Scrubs ( espetacular! ), That' 70s Show e, recentemente, no longa metragem dos Simpsons. Também agora foi usada em um comercial nacional da Ford. Muito difícil ouvir e não cantar junto, e é muita sorte a canção não ter sido usada até hoje como trilha de novelas da Globo: Isto impede de torná-la conhecida ao ponto de todas aquelas simpáticas e queridas pessoas que adoram Videokê a quererem cantar em todas as reuniões de família!( http://www.youtube.com/watch?v=gkVM-jGNn04 )

10- The Troggs, "Love is all around". Novamente os trogloditas, agora com esta canção que destoa totalmente de "With a girl like you" e a citada "Wild Thing", poderia muito bem estar em um álbum dos Beach Boys. Possui uma belíssima versão gravada até mesmo em acústico ( http://www.youtube.com/watch?v=OHheIBhceow )pela banda norte-americana R.E.M. Nesta gravação há uma boa variedade de instrumentos e bom uso de violino, que não fica na mesmice de ecoar os acordes do violão. ( http://www.youtube.com/watch?v=3EXRPxC-5bE )

11- THe Hollies, "He aint heavy, he's my brother". Com este poderoso título, não poderia ser uma má canção. Aqui fala-se de um irmão, mas isto pode ser interpretado até mesmo no sentido religioso ( "Somos todos filhos de Deus" ), no mandamento de fazer o bem sem olhar a quem. Trata sim de amor, mas de outra forma, em outro patamar. A banda The Hollies, que teve em sua formação Graham Nash ( que depois formou o "Crosby, Stills & Nash ) continua mais ou menos na ativa desde os anos 60, e teve seu último álbum lançado em 2006. Deve ser uma das bandas que mais teve gente já como integrante, até pela longevidade. Mas não precisa se aprofundar muito na história da banda, pouca coisa feita ali é tão boa quanto este clássico. Infelizmente não consegui obter uma versão de qualidade da versão do Hollies na internet, razão pela qual trago aqui a gravada por um tal Countdown Singers, muito fiel à original. ( http://www.youtube.com/watch?v=C1KtScrqtbc )


Divirtam-se!

Labels:

Monday, December 29, 2008

Teria Coldplay plagiado Joe Satriani?

O fato pop mais interessante do ano não é o envolvimento Mallu - Marcelo Camelo. Também não é a banda nova de outro Hermano, Rodrigo Amarante que montou a ótima Little Joy. Também não dá para colocar neste patamar as muitas confusões de Amy ou Britney Spears ou XXXXX ( Onde está XXXXX, imaginar qualquer nome de rapper americano com pose de malaco ).A mais interessante história do universo pop neste ano foi a que envolveu a banda britânica Coldplay em uma acusação de plágio do extraordinário guitarrista Joe Sartriani.
Uma polêmica de mãos cheias por envolver dois agrupamentos normalmente antagônicos e acalorados: De um lado, os milhões que estão antenados na maior banda de rock dos últimos anos, das poucas que conseguem ainda arrastar multidões por onde vão sem ter que se garantir com músicas de mais de dez anos de vida; De outro, a trupe auto-suficiente e arredia dos metaleiros.
Foi com certo regozijo que os metaleiros e toda a outra metade do planeta que odeia Coldplay ouviu a notícia de que Joe Sartiani processaria Chris Martin e os seus, exigindo até mesmo todos os lucros advindos do sucesso do novo álbum, "Viva la Vida". O mais interessante, Satriani ganhou espaço em toda a mídia, em todo o "sistema", até mesmo na mídia puramente de entretenimento, e com declarações de fazer inveja aos mais wannabes do Showbiz:

"(...)The second I heart it, I knew it was 'If I Could Fly,' " he said. "I spent so long writing the song, thinking about it, loving it, nursing it, and then finally recording it and standing on stages the world over playing it—and then somebody comes along and plays the exact same song and calls it their own."
A alegação de que "Viva La Vida" era copiada de "If I could fly" ganhou entornos mais realistas quando começaram a pipocar vídeos no YouTube que alteravam levemente o andamento da canção do grupo de Rock, e alguns até mesmo faziam pequenas substituições de notas, tudo para encaixar perfeitamente as progressões de cordas. Abaixo, esquematizando:

Progressão do Coldplay: VI, VII, III e I ( em Fá Menor ). Em acordes, fica D, E, A, Fm.
Progressão de Satriani: IV, VII, III e I ( em Si Menor ). Em acordes, fica Em7, A, D7, Bm.

Noves fora as correspondências e equivalências entre a VI e a IV, ainda mais se a sexta estiver menor ( e no caso com sétima menor ). Esqueça-se também a diferença de tom entre as músicas ( Uma está em Fá menor, outra em Si menor ), elas são realmente parecidas. Ah, há também uma pequena diferença no metrônomo, a velocidade não é exatamente a mesma, coisa fácil de corrigir em um editor de vídeo e colocar no YouTube.

Enfim, a história até parecia estar difícil para o Coldplay. Acontece que a mesma maldita ferramenta de edição que conseguiu juntar "Viva la Vida"e "If I could fly" também permite sobrepôr muitas outras canções, e isto foi feito à exaustão. Agora, menos de um mês do lançamento da polêmica, ainda não pararam de surgir novos vídeos ridicularizando a hipótese de plágio, por mais que ela soe razoável na primeira olhada.
Abaixo, dois esmagadores vídeos que jogam água abaixo as pretensões de Satriani em ficar milionário: Eles usam o mesmo método de Satriani, ou seja, pegam músicas que têm progressões de acordes semelhantes a ambas as músicas, e se não forem, que ao menos apresentem alguma similaridade. E, no universo pop, coisa mais fácil é encontrar músicas semelhantes.
Então, ao primeiro, mais sério:



Agora, para matar de vez, um vídeo elencando inúmeros sucessos recentes, a maioria de músicas bem pop, com direito a legendas e tudo. Na verdade é um vídeo de outra ordem, é apenas uma colagem, mas ajuda a construir o raciocínio de que muitas, muitas músicas se encaixam naquela combinação harmonia/melodia/ritmo:



Desta história toda, o que ficou mesmo foi a cara de bobo de Satriani. Tá bom, ele é um puta guitarrista, ele é espetacular, ele é um dos maiores de todos os tempos, mas o que não podia era se tornar também uma das pessoas a passar o maior papelão ao tentar ser esperto. Quer dizer, o que se pode apontar de Plágio em "Viva la Vida" à sua música que não seja encontrada nas músicas anteriores a "If I could fly" e que, da mesma forma, são constrangedoramente parecidas? Ainda mais para um megainstrumentista como ele, plagiar o Latino sueco pegou muito, muito mal!

Labels: ,

Wednesday, December 03, 2008

"Sempre dentro da tristeza, existe algo muito feliz, dentro da gente"

Eu não sei bem o que dizer deste vídeo... Só sei que há mais filosofia, sinceridade e até mesmo inteligência do que certos vídeos de pretensiosos sabichões.
Trata-se de um "Feliz aniversário" mandado de uma amiga distante a outra. Ela escolheu tocar uma música do Live ao violão, Lightning Crashes. Uma ótima música, diga-se. O porquê dela dedicar a uma amiga uma música que trata de uma morte terrível? Ah, tem que ver o vídeo até o final e conhecer um pouco do significado da música.
Como o vídeo foi feito ano passado, em homenagem ao aniversário da amiga que fazia 29 anos no final de novembro, estou em busca do subsequente vídeo celebrando os 30 anos.

Labels: