Crônicas do "Da C.I.A"

Wednesday, November 12, 2008

Quem roubou o meu Obama? - J.P. Coutinho

Originalmente na Folha de 11/11/2008

EXMOS. SENHORES da Folha: Recebam os meus melhores cumprimentos.
Três semanas atrás, ao ler a minha coluna na Ilustrada, tive a desagradável surpresa de encontrar um tal de João Pereira Coutinho que, assumindo o meu nome e até o meu estilo literário, proclamava arrogantemente que John McCain seria o próximo presidente americano. O texto, "John McCain, Presidente", despertou, como seria inevitável, reações violentas nos leitores. Dois deles tiveram apoplexia hilária, uma forma rara de gargalhada demencial que requer internação e cuidados intensivos.
O objetivo do farsante era, naturalmente, desqualificar-me em público e mostrar minha ingenuidade em política. Não pretendo levantar suspeições, embora três nomes me aflorem imediatamente: Nelson Ascher, Reinaldo Azevedo e Diogo Mainardi. Sim, três terríveis direitistas que, impedidos de derrubar o presidente Lula, decidiram derrubar o presidente Obama por escrito, usando meu pobre nome como proteção para seus golpes.
Pretendo processar os três e enviar o responsável para Cuba, para a Coréia do Norte ou para a USP, dependendo do orçamento. Mas, para repor a verdade conspurcada pelo farsante, republico aqui o texto original (e inédito) que deveria ter sido publicado no fatídico dia 21/10. Intitula-se, apropriadamente, "Barack Obama, Presidente": "Colunistas têm de ser responsáveis: uma coisa são as suas preferências; outra, a dura e cruel realidade. Gostaria que John McCain vencesse. Em setembro, antes da crise econômica e financeira estourar, acreditei que sim. Mas é Barack Obama quem vai ganhar no próximo dia 4. As pesquisas não mentem, apesar de tradicionalmente serem bondosas para os democratas. E existe ainda o "efeito Bradley", ou seja, votantes que, na hora H, permitem que o preconceito racial tenha a palavra decisiva.
Esqueçam. Dessa vez, não haverá "efeito Bradley" para ninguém.
Mas comecemos por McCain.
Por que motivo a minha bola de cristal desautoriza qualquer confiança no bicho? Porque o bicho é velho. Numa cultura dominada pelo mito da juventude, isso é mortal.
A juntar à velhice do bicho, temos Bush e a crise. McCain está demasiado colado ao primeiro. E McCain não é a pessoa certa, aos olhos dos americanos, para lidar com a segunda.
A pessoa certa é Obama. Negro?
Verdade. Mas a raça não será um fator decisivo, como foi no passado. Pelo contrário: os americanos vão premiar Obama precisamente por ele ser negro. Americano é idealista. Americano acredita que a república dos "founding fathers" continua a ser "a cidade no cimo da colina". Um presidente negro é a suprema consagração da excepcionalidade americana. Quem resiste ao lado sentimental do filme?
Nem poderia ser de outra forma.
A campanha de Obama foi profissional e eficaz. E rica: mais de US$ 600 milhões para gastar em propaganda e captação de eleitores. A retórica e a juventude do candidato fizeram o resto. Não ter Sarah Palin como vice, também.
Por isso, olho minha bola de cristal e prevejo: mais de 90% dos negros votarão em Obama; mais de 60% dos latinos, também; idem para os asiáticos; os jovens estarão com ele, sobretudo os que votam pela primeira vez; e as mulheres; e os mais pobres; e os mais ricos; e até uma fatia generosa de brancos, algo como 42%. Melhor: 43%.
E nos Estados em disputa? Bem, vocês estão pedindo muito de um simples colunista. Mas prevejo, sem dificuldades, que Obama vencerá em redutos tradicionalmente republicanos (como Virginia ou Indiana, Estados republicanos desde 1964). E roubará os Estados de Iowa, Novo México, Nevada, Colorado e a fatal Flórida.
Moral da história? A minha bola de cristal só tem um nome: Obama.
E uma vitória com 52% dos votos, ou seja, uns 63 milhões de americanos obamistas, recorde total.
McCain não passará dos 56 milhões de votantes. Não acreditam?
Confiram no dia 4.
E agora, se os leitores me permitem, vou descansar um pouco a minha genial cabeça e preparar-me para assistir ao Corinthians x Ceará no próximo dia 25. Não confundo alhos com bugalhos. Mas se o Corinthians não vencer por 2 a 0 o Ceará, com gols de Douglas (primeiro tempo) e Chicão (segundo tempo), eu não passo de um farsante."
Reposta a verdade dos fatos, renovo os meus melhores cumprimentos.
João Pereira Coutinho, o próprio.

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